Discos para história: Please Please Me, dos Beatles (1963)

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A sexta edição do Discos para história traz o primeiro lançamento dos Beatles. Please, Please Me foi o primeiro passo de uma banda que, até então, só tocava em bares locais. Depois disso, a vida de John, Paul, George e Ringo não foi mais a mesma.

História do disco

Era 1961 quando, em mais um show do Cavern Club, os Beatles estavam sendo observados pelo empresário Brian Epstein, que foi alertado por alguns de seus sócios do sucesso que a banda estava fazendo em Liverpool naqueles dias. Encantado com o jeito da banda no palco, ainda formada por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Pete Best – Stu Sutcliffe, amigo de Lennon e baixista, havia deixado o grupo para ficar em Hamburgo e estudar arte –, ele se ofereceu para agenciar o grupo, o que conseguiria apenas em janeiro do ano seguinte. Mas a vida não foi fácil, e eles foram recusados em todas as audições que participaram.

Nesse meio tempo, eles receberam a notícia da morte de Sutcliffe, vítima de derrame aos 21 anos. Pouco tempo depois, as coisas melhoraram e eles conseguiram um contrato com a Parlophone, um conhecido selo de comédia que pertencia a EMI e tinha George Martin como um dos produtores. Aliás, foi graças a Martin que os Beatles conseguiram assinar o primeiro contrato.

Empolgado com o entusiasmo de Epstein, ele topou assinar sem ouvir qualquer gravação deles. Na primeira audição, o então desconhecido produtor sequer estava na sala dos estúdios Abbey Road, e as músicas escritas por Lennon-McCartney não agradaram. Mas o que fez Martin assinar com eles, além do empenho e dedicação, foi o senso de humor de George, John e Paul – eles fizeram inúmeras brincadeiras durante o primeiro encontro entre os quatro.


Pouco antes do primeiro registro oficial em estúdio, Pete Best foi demitido, e Ringo Starr foi contratado. Em setembro de 1962, os quatro beatles gravaram “Love Me Do”, o que viria a ser o primeiro single do grupo. Mas outro problema apareceu: Starr não agradou Martin, que recorreu a Andy White para gravação seguinte, que incluiu "Please Please Me" e "P.S. I Love You”.

Nesse meio tempo, a imagem deles estava sendo trabalhada por Brian nos bastidores. Eles tiraram as jaquetas de couro e os topetes, e partiram para o cabelo igual e terno e gravata. No meio dessa transformação, eles lançaram a primeira música de trabalho, em outubro de 1962, que chegou ao 17º lugar das paradas.

Três meses depois, já em janeiro de 1963, a Parlophone lançou “Please Please Me” como segundo single, e isso foi o início da explosão do que viria a ser chamada de ‘beatlemania’. Ela chegou ao primeiro lugar em quase todas as rádios, o que antecipou os planos da gravadora para o lançamento do LP.

No dia 10 de fevereiro de 1963, às 10h, o quarteto entrou em estúdio, e eles levaram exatas nove horas e 45 minutos para gravar Please Please Me. Basicamente, eles pegaram todas as músicas que tocavam nos shows e mandaram ver em Abbey Road, com seis covers e oito músicas autorais. O fato marcante da sessão foi o forte resfriado de Lennon, que deixou a voz dele um pouco diferente do normal – em “Twist and Shout”, John mais grita do que canta, já que a garganta estava bem ruim no início da noite. Lançado no dia 22 de março daquele ano, o disco mudou a história de quatro meninos de Liverpool e da música pop para sempre.

A capa foi feita na sede da gravadora EMI em Manchester Square, Londres. Não tem muito segredo: são os quatro membros da banda um lance de escada acima, enquanto o fotógrafo estava na parte de baixo.


Resenha de Please Please Me

No período em que levava o nome de Quarryman nos cartazes, os Beatles nunca negaram a preferência pela música americana – principalmente o R&B e blues. Por isso, começar com “I Saw Her Standing There” não é surpresa. A simplicidade dos versos e da batida foi a marca da primeira fase do Fab Four. A música mostrava um pouco do que eles queiram e sentiam na época. Além disso, era um rock fácil, e McCartney estava muito bem nas gravações, e isso se refletiu na canção.

A segunda do álbum é a história de um cara que estava muito magoado por ter perdido a namorada, mas o vocal de Lennon em “Misery” acaba sendo mais uma tirada de sarro. A música conta com a primeira participação de George Martin: ele toca piano. Antes dos Beatles, Kenny Lynch gravou a letra, mas não fez sucesso.

Uma das favoritas de John, “Anna (Go to Him)” foi colocada no álbum e, acreditem, é melhor do que a gravação original. Com harmonias perfeitas, a música foi um marco em 1963, já que, pela primeira vez, um homem mostrava todo seu amor a uma mulher – e Lennon mudou a letra, cantando “Go With Him”, não “Go to Him”. Em “Chains”, conhecidíssima na voz do grupo feminino Cookies, temos a primeira participação de Harrison como vocalista. Ainda não era o melhor momento de George, por isso ela está um pouco abaixo das outras.

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A sequência, com “Boys”, reservou outra estreia: a de Ringo nos vocais. Acostumados com essa canção dos shows, ela foi a única do disco gravada em apenas um take. O backing vocal, feito pelos outros três membros da banda dá um tom interessante. Depois temos “Ask Me Why”, uma bela música de amor escrita e cantada por Lennon, que conta com uma bela guitarra.

Fechando o primeiro lado do LP, temos “Please Please Me”. Uma música fácil, pronta e embalada para ser um hit. Na primeira gravação, ela era um blues, então Martin sugeriu acelerar um pouco o andamento. Logo após o final da sessão, o produtor afirmou: “Parabéns cavalheiros. Acabaram de gravar seu primeiro número um”. O sucesso fez a banda aparecer pela primeira vez na TV, no Thank Your Lucky Stars.

O lado B começa muito elegante com “Love Me Do”, composta por Lennon-McCartney ainda na adolescência. Gravada por três bateristas diferentes (Best, Starr e White), ela saiu como primeiro single e fez sucesso, o que animou os Beatles e a gravadora. É nessa música que aparece a gaita de John de maneira mais forte, além de ter o conhecido coro.

Na segunda do lado B temos “P.S. I Love You”, outra fácil canção de amor em que Ringo toca maracas, enquanto White está na bateria. McCartney escreveu e cantou. Parte do set list da banda nos shows, "Baby It's You" é composta por uma bela levada de bateria, um metalfone tocado por Martin e a guitarra de Harrison.

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Escrita por Lennon, "Do You Want to Know a Secret" é inspirada em uma música da trilha sonora de Branca de Neve e os Sete Anões, mas quem acabou cantando foi Harrison, na segunda colaboração do guitarrista fazendo os vocais. Outra presença certa nos shows, “A Taste of Honey” teve seu lugar garantido em Please Please Me por vontade de Paul. Escrita por Bobby Scott e Ric Marlow, a versão original tem um coro feminino, mas que foi muito bem substituído por George, John e Ringo.

Curtinha, “There's a Place” só ganhou a famosa gaita na parte final da sessão, o que fez toda diferença. É uma das músicas mais rápidas do disco, com a bateria deixando isso bem claro. Para encerrar, o clássico das pistas até hoje. “Twist and Shout” foi a última do extenso dia de gravações, e a voz de Lennon mostra bem isso. Doente, ele ficou o dia inteiro chupando balas para tentar limpar a garganta, mas não obteve muito sucesso, e isso fica claro na canção. Mesmo assim, a voz rouca deu outro tom, além de toda disposição dos quatro em tocar e cantar – parecia que era a primeira música do dia.

Ao entrar em estúdio naquele dia, os então meninos de Liverpool nem imaginavam que iriam mudar os rumos da música. Please Please Me foi o início de um domínio nunca visto na história das paradas. O trabalho foi o primeiro de 11 no primeiro lugar, além de uma permanência contínua no topo nas rádios. Enfim, ali começou a história da maior banda de todos os tempos.

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