Discos para história: Buffalo Springfield, da Buffalo Springfield (1967)

A quinta edição do ‘Discos para história’ vai revistar um dos grandes clássicos dos anos 1960: a estreia da Buffalo Springfield em estúdio. Com um álbum homônimo, Richie Furay, Stephen Stills, Neil Young, Dewey Martin e Bruce Palmer mostravam ao mundo que, juntos, fariam história na música – apesar do curto período de existência do grupo.

História do disco

A criação da banda começa na forte amizade entre Neil Young e Stephen Stills, que se conheceram em 1965 – quando o primeiro era um dos guitarristas dos Squires, e o outro era líder do Company, que era uma parte do finado Au Go Go Singers. Ali nascia o eixo central da Buffalo Springfield, em uma parceria que perdura até os dias atuais.

Um ano depois desse encontro, Neil batalhava para se firmar como músico, enquanto Stephen estava na Califórnia e já conhecia parte desse caminho. Certo dia, o então jovem guitarrista canadense decide que vai encontrar o amigo de qualquer maneira e resolve entrar de maneira irregular nos Estados Unidos – sem o Green Card.

Não sabendo como localizar Stephen, Young desiste da busca e ensaia um retorno ao Canadá, mas, em uma dessas coincidências do destino, ele acaba encontrando o amigo no caminho para casa. Com o guitarrista Richie Furay certo na banda, só faltava um baterista. Algumas semanas depois, Dewey Martin foi recomendado por um amigo em comum e, assim, estava formada a banda que se chamaria Buffalo Springfield – nome de uma empresa de rolo compressor que tinha sede em frente ao hotel onde a banda costumava se encontrar.


Furay, Stills, Young, Martin e Palmer fizeram a estreia como banda em abril de 1966 no Troubadour, em Hollywood, abrindo para os Byrds. Não demorou para que a base de fãs aumentasse, o que chamou a atenção de alguns empresários e executivos de gravadoras importantes. Por um longo tempo, o grupo foi a principal atração do Whisky a Go Go, importante revelador de talentos da cena roqueira da Costa Oeste. O acerto para tocar por sete semanas na casa acabou acontecendo por conta da dupla Charlie Greene e Brian Stone, que assumiu o gerenciamento da carreira da banda.

Fazendo um sucesso inesperado, eles acabaram fechando com ninguém menos que a Atlantic Records, de Ahmet Ertegün. Importante membro da indústria até os últimos dias de sua vida, Ertegün tinha boa mão para gerenciar e descobrir talentos – Ray Charles, B.B King e Aretha Franklin foram alguns dos artistas que passaram pela gravadora do turco radicado nos Estados Unidos.

Com contrato assinado, a Buffalo Springfield gravou o registro entre julho e setembro de 1966, e a maioria do vocal das músicas foi dividida entre Stephen e Furay, e isso contrariou um pouco Neil – a justificativa era que a voz do guitarrista “era estranha”. O que, claro, foi desmentido ao longo dos anos seguintes.

Contra a vontade do grupo, o primeiro single acabou sendo “Nowadays Clancy Can’t Even Sing”. Para surpresa da gravadora e dos empresários, a música acabou estourando nas rádios californianas. Mas apesar do sucesso e da agenda lotada de shows, uma coisa deixou os músicos bem chateados.

Um processo comum à época era mixar os álbuns em mono (gravação usando um único canal para todos os instrumentos), com todos os membros da banda dentro do estúdio em uma jam session. Finalizado esse processo, que levava dias e takes intermináveis – já que tudo deveria ser gravado com perfeição e não havia como  consertar erros –, a mixagem demorava dias, porque as faixas precisavam ser encaixadas em um trabalho manual, envolvendo produtores e engenheiros de som.

Pois bem, depois desse trabalhão todo, Greene e Stone, que não entendiam picas de música, acharam que remixar tudo em estéreo (método de gravação que usa canais diferentes para os instrumentos, e as partes são encaixadas na mixagem) seria lindo e moderno naqueles dias. Mas não foi. Claro, a banda ficou furiosa. Então inexperientes no assunto, o grupo acabou aceitando que LP saísse assim mesmo.

A estreia da Buffalo Springfield estava indo bem, mas Stephen tinha uma carta na manga. Contextualizando: o final dos anos 1960 foi o auge do movimento hippie, e todos estavam no clima paz e amor. Em 1966, Stills presenciou uma ação violenta da polícia contra jovens manifestantes em um protesto, e isso serviu de inspiração para "For What It's Worth", uma das musicas mais lindas já escritas. A canção foi sucesso e chegou ao top-10 no primeiro trimestre do ano seguinte. Aproveitando o bom momento, a Atlantic resolveu relançar o trabalho e tirou "Baby Don't Scold Me" para colocar a nova música. O álbum vendeu mais de um milhão de cópias e ganhou o disco de ouro.

A capa não tem segredo: é uma montagem da banda feita por Sandy Dvore, e foi essa primeira aparição que colocou o designer na rota de alguns dos principais nomes da indústria nos anos seguintes. As fotos foram feitas por Henry Diltz e Ivan Nagy.


Resenha de Buffalo Springfield

Como já dito acima, o relançamento do primeiro trabalho da Buffalo Springfield foi um sucesso de vendas graças a "For What It's Worth”. Essa canção tem uma delicadeza e uma sensibilidade que poucas pessoas teriam para relatar um protesto. O vocal quase poético de Stephen está excelente, assim como a guitarra soando ao fundo, dando um tom ainda mais reflexivo à canção. There's somethin' happenin' here/ What it is ain't exactly clear/There's a man with a gun over there/A-tellin' me I've got to beware dá o tom da música, o maior sucesso do grupo em um ano e meio de existência.

Saindo do folk para o country, a banda apostou em "Go and Say Goodbye" como segunda canção do disco. Mostrando versatilidade de um veterano, Stills comandou o grupo com maestria – destaque para a brilhante performance de Palmer no baixo. Mostrando que também sabe fazer música pop, o líder da banda divide os vocais com Furay em "Sit Down I Think I Love You", uma linda canção de amor.

Escrita por Young, "Nowadays Clancy Can't Even Sing" foi lançada como single do primeiro lançamento. Furay faz o vocal sozinho, e ele conta uma história sobre crescimento e amadurecimento, e tem ajuda de um belo backing vocal. Em outra canção de amor, "Hot Dusty Roads" fala de uma bonita história de um jovem casal, que desafia o pessoal mais velho na faixa seguinte, chamada “Everybody's Wrong”, em outro country delicioso.



Em outra música de Neil, "Flying on the Ground Is Wrong" também tem Furay sozinho, em uma música meio cantada, meio versada. A letra é muito triste e, depois de ler a biografia de Neil é um claro registro de seus tempos de criança no Canadá. Falando no guitarrista, ele se apresenta como vocalista em “Burned”. O ménage de instrumentos é perfeito, e ninguém sai insatisfeito.

"Do I Have to Come Right Out and Say It" é um folk, com destaque para os vocais fortes – lembra bastante o estilo de musica feita pela The Band. Stills retorna ao microfone em “Leave”, um country-folk bem rápido. Mais lenta e mais profunda do que a anterior, "Out of My Mind" repete a fórmula de sucesso do disco: o vocal fraseado, que caiu muito bem em Young. O solo de guitarra volta a aparecer com força em "Pay the Price", encerramento do excelente primeiro álbum da Buffalo Springfield.

A estreia da banda américo-canadense é dessas que acontece em alto nível. Com todos os músicos inspirados, e com uma sinergia única, o grupo conseguiu fazer sucesso de cara, e isso foi fundamental na carreira de Stills e Neil, principalmente. Os dois estavam se transformando nas lendas que viraram hoje. E mais estava por vir, com a criação do Crosby, Stills, Nash e Young e com a carreira solo de Neil. Eles nem sabiam que o futuro seria glorioso.

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