Discos para história: Some Girls, dos Rolling Stones (1978)


Hoje, os Rolling Stones estão completando 50 anos de sua primeira reunião e, aproveitando a oportunidade, o blog vai inaugurar a seção “Discos para a história”, que vai contar um pouco dos grandes discos da música. O primeiro será Some Girls, de 1978, e que marcou o ressurgimento da banda nas paradas no período em que o punk dominava o cenário e os músicos consagrados estavam sendo duramente criticados.

História do disco

Quem conseguiu sobreviver ao rock psicodélico e a fase disco do final dos anos 1960 e início dos anos 1970 vivia um período de incerteza com os anos 1980 chegando. O punk, música surgida nos subúrbios britânicos e que tem Sex Pistols, com Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols e Clash, com The Clash, como as duas grandes referências, dominava as paradas (a cabeça e as roupas) e a nova geração de jovens britânicos abraçou as músicas de protesto por conta dos inúmeros problemas socioeconômicos daquela época.

Provocado pelas críticas que estava recebendo, ser chamado de “velho” e “fora de moda” eram as principais, Mick Jagger decidiu que um novo disco dos Rolling Stones precisava ser feito – o fracasso de Black and Blue, de 1976, também ajudou o cantor e líder da banda a tomar a decisão.


Buscando novos ares para esquecer os problemas e as críticas nos Estados Unidos, os Rolling Stones foram à Paris, no Pathé Marconi Studios, para as gravações do disco que foi feito em duas partes: entre outubro e dezembro de 1977, e janeiro e março de 1978.

Recém-chegado ao grupo em 1975, Ronnie Wood já estava mais em casa e já era considerado um membro oficial da banda. Esse fator foi fundamental nas gravações de Some Girls, porque, enfim, Wood pôde apresentar seu estilo, não apenas gravar as músicas como fez dois anos antes. Além disso, Jagger havia aprendido a tocar guitarra razoavelmente bem nos anos anteriores e, em muitas músicas, a presença de guitarras é marcante, o que não havia acontecido na história da banda até então.

O disco também marcou a recuperação de Keith Richards, que usava e abusava das drogas e da bebida, e quase morreu algumas vezes nos anos anteriores. Ele chegou a ser preso e condenado por porte ilegal de drogas no Canadá no início de 1977, mas pegou uma pena leve e fez um show beneficente para a Canadian National Institute for the Blind para encerrar o processo.

A capa de Some Girls foi desenhada por Peter Corriston, que seria responsável pelas capas dos próximos três discos da banda. A capa mostra mulheres famosas e membros dos Stones em um anúncio de lingerie e, claro, deu problema. As atrizes Lucille Ball, Farrah Fawcett, Liza Minnelli, que representava sua mãe Judy Garland, Raquel Welch e os responsáveis pelos direitos de imagem de Marilyn Monroe entraram na justiça para que o disco fosse retirado de circulação. Para não causar problemas, o álbum foi reeditado sem os rostos delas e com o aviso na capa: “PARDON OUR APPEARANCE - COVER UNDER RE-CONSTRUCTION” e ficou tudo certo – a primeira edição virou um item raro de colecionador.


Resenha de Some Girls

O disco começa com uma música que se tornaria um clássico da banda: “Miss You”. Mantendo a pegada altamente sexual que marcou a banda lá nos anos 1960, “Miss You” tem uma levada muito leve nas guitarras de Keith Richards e de Ronnie Wood, também altamente participativos como backing vocals. Mas o que é fundamental é a bateria comandada por Charlie Watts, que é um show a parte e um dos grandes comandando o instrumento. E nem é necessário falar de Mick Jagger, o condutor disso tudo.

Já "When the Whip Comes Down" foi considerada uma letra muito incomum, mesmo para quem havia passado pelos anos 1960 e 1970, porque fala de um gay morando em Nova York. Além da influência por quase todos os membros morarem na cidade, a canção foi inspirada no movimento punk pela rapidez incomum, mas tem o toque dos Stones, como um solo de guitarra na metade da canção. “When the Whip...” também foi alvo de muita especulação sobre a sexualidade de Jagger (mais uma vez) e ele ajudou a disseminar o fato ao responder que havia saído do armário com a letra da canção.

Dando uma quebrada no ritmo do disco, vem a excelente “Just My Imagination (Running Away With Me)”, uma regravação do grupo The Temptations. Se a versão original é uma balada bem lenta, a versão dos Stones não deixou de ser uma música lenta, mas é um pouco mais acelerada e conta com a guitarra inspirada de Richards trabalhando com maestria.

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A música título do disco, outro clássico da banda, começa com um riff poderoso e é o cartão de visitas. A letra é provocadora e tem um tom de crítica ao estilo de vida das garotas, mas é das inglesas que Jagger pega no pé (English girls they're so prissy/I can't stand them on the telephone/Sometimes I take the receiver off the hook/I don't want them to ever call at all). Falando da música, os arranjos de “Some Girls” são ótimos e deixam a canção com uma cara blues/rock bem legal.

O lado A do disco é encerrado com “Lies”, uma música bem à Jagger. Dançante e rápida, conta a história de um cara que está sendo enganado por sua mulher/amante. Mais curta do que todas as outras do lado A, “Lies” encerra a primeira parte com extrema competência. Nessa música, Jagger, Richards e Wood dividem os créditos de guitarristas.

A segunda parte do disco começa com “Far Away Eyes”, uma música bem no estilo country americano e contador de histórias do cotidiano. O ritmo lento de Watts e a guitarra de Wood são os destaques da canção, uma das mais belas já escritas pela dupla Jagger/Richards – apesar disso, a música foi tocada pouquíssimas vezes na história da banda, o que deixa o documentário Shine a Light, de 2008, ainda mais especial por ter a música lá.

“Respectable” nasceu como uma música lenta, mas ganhou rapidez quando a letra chegou nas mãos de Richards, que via a canção como algo mais Chuck Berry. E a música só ganhou com a rapidez de Watts na bateria e com as guitarras. Obrigado por convencer Jagger, Keith.

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Em "Before They Make Me Run", Richards resolve assumir seu estilo maluco (After all is said and done/Gotta move while it's still fun/Let me walk before they make me run/After all is said and done/I gotta move, it's still fun/I'm gonna walk before they make me run). A música foi gravada quando Jagger não estava no estúdio e foi a oportunidade perfeita para Richards deixar sua marca no disco além da guitarra.

Escrita por Richards muito antes da gravação de Some Girls, "Beast of Burden" é outra grande música dos Stones que acabou sendo aproveitada ao acaso e fez sucesso ao ser lançada como single. Com um ritmo leve e muito agradável, as improvisações de Jagger na letra contribuíram muito, colocando a cereja no bolo de uma música muito boa.

Encerrando o disco vem a fantástica "Shattered", que fala do estilo de vida em Nova York. Muito fina, elegante e sincera, a canção finaliza um dos grandes trabalhos dos Stones nestes 50 anos de carreira e elevou o padrão da banda mais uma vez.

No final de 2011, a banda lançou um box com o disco remasterizado e sobras de estúdio, e vale a pena até para quem não é tão fã da banda, porque contém um material raro e de extrema qualidade.

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