Muito mais do que os fãs, Leonard Cohen sempre esteve preparado para hoje


Cantor morreu aos 82 anos, em Los Angeles

Um curto comunicado na página oficial no Facebook confirmou a morte de Leonard Cohen, nesta quinta-feira (10), aos 82 anos. "É com profunda tristeza que relatamos que o lendário poeta, compositor e artista, Leonard Cohen morreu. Perdemos um dos mais venerados e prolíficos visionários da música, uma cerimônia ocorrerá em Los Angeles em uma data posterior, e a família pede privacidade durante seu período de luto".

Cohen já não tinha a mesma energia de alguns anos atrás, marcado pelo seu retorno aos palcos. A trilogia formada por Old Ideas (2012), Popular Problems (2014) e You Want It Darker (2016) mostrava um cantor dos mais interessantes, musicalmente e liricamente falando. Se os dois primeiros foram gravados com energia e vigor, o último já ouvimos um cantor mais fraco. Nessa idade, a vida caminha para o fim. Mesmo assim, nos apegamos na última fagulha de esperança para evitar nossas dores e fantasmas. Às vezes, queremos evitar o inevitável unicamente para esconder os sentimentos. Como sabemos, isso é impossível.

Cantor tardio, ele era um poeta veterano quando gravou o primeiro álbum há quase 50 anos. É difícil, diria quase impossível, não se encantar pelo estilo, pelo bom gosto nos arranjos, pela declamação de palavra a palavra de cada canção. Cohen não precisava melhorar, porque parecia perfeito aos olhos e ouvidos de quem teve a chance de acompanhar toda ou parte de sua carreira.



Raramente errava a mão, compôs canções maravilhosas, homenageou pessoas, amores, lugares. Contou um pouco sobre sua história de vida em 16 discos de estúdio, mostrou ao mundo todo seu talento. Na edição deste ano do In-Edit Brasil, tive a chance de ver um documentário lindo sobre ele, Leonard Cohen: Bird on a Wire (1974), dirigido por Tony Palmer. Cohen mostrou-se uma figura das mais complexas entre as muitas existentes por aí, mas muito longe de estar em qualquer pedestal. Parece que ele não se permitia ter essa postura, mesmo sendo idolatrado por centenas de milhares de pessoas.

Assim como fez David Bowie, Cohen preparou o próprio obituário. Gravou canções questionando decisões do passado, perdoando pessoas, pedindo perdão a outras tantas e dando lições para os mais jovens sobre a vida e as batalhas do dia a dia que precisamos conviver. O esforço em deixar esse último álbum mostrou como ele, muito mais do que nós ao recebermos a notícia, estava preparado para hoje. Parece que ele sempre esteve, no fim das contas.

O ano de 2016 não está sendo dos mais fáceis para os fãs de música. Para ficar em apenas três: David Bowie, Prince e, agora, Cohen. Em um mundo com cada vez mais problemas em diversos aspectos da nossa sociedade, estamos ficando sem referências, sem nossos portos seguros, sem ter a quem recorrer em um momento de dificuldade. Em resumo: tá foda. E muito. Mas fiquemos com o último verso da letra de "If I Didn't Have Your Love", presente no último disco de Cohen, porque sempre haverá esperança.

If the sea were sand alone/ And the flowers made of stone/ And no one that you hurt could ever heal/ Well that's how broken I would be/ What my life would seem to me/ If I didn't have your love to make it real


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