Discos para história: The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd (1973)

A sétima edição do Discos para história vai contar como a maior obra do Pink Floyd foi criada. Desde os problemas de Syd Barrett até o ápice final: como nasceu e cresceu a ideia de The Dark Side of the Moon, o disco que causou a nova revolução inglesa na música.

História do disco

O início do então The Pink Floyd foi inteiramente pautado por um dos maiores gênios da música inglesa dos anos 1960. Syd Barrett era um artista em sua essência: sem luxos ou qualquer tipo de ostentação, o cantor e compositor foi o principal pilar de The Piper at the Gates of Dawn, o primeiro álbum de estúdio do grupo, que também contava com Roger Waters, Rick Wright e Nick Mason.

A partir desse lançamento, até um pouco antes, o já Pink Floyd virou o principal expoente da segunda geração do underground inglês. O sucesso parecia algo inevitável, e os shows pelo Reino Unido só aumentavam. Então aconteceu uma virada que mudou para sempre os rumos do grupo.

Viciado em drogas, Barrett tomava até 12 comprimidos de LSD por dia, e isso começou afetar seu desempenho nos shows – em alguns momentos, ele simplesmente ficava parado no palco e não tinha qualquer tipo de reação. Sem saber da real situação do companheiro, e após aguentar o que ele chamou de “falta de comprometimento” por meses, Waters simplesmente bateu o pé e pediu a demissão do principal nome da banda. Nesse meio tempo, o guitarrista David Gilmour, um velho amigo, foi chamado para cantar as partes de Syd, enquanto este ficava parado no palco.


Um dia, a van que levava a banda para mais uma apresentação simplesmente não passou na casa de Syd por ordens de Waters. E foi assim que acabou a história dele na banda. Isso resultou no rompimento dos empresários com o Pink Floyd, o que não deixou escolha ao grupo a não ser recomeçar com Gilmour assumindo os vocais – anos depois descobriram que Barrett era esquizofrênico e as drogas potencializaram o problema.

O grande problema em contar com um gênio no grupo é que não existia uma divisão nas composições, e Barrett cuidava dessa parte, e os outros cuidavam mais dos arranjos. Com a saída dele da banda, era necessário que alguém tomasse as rédeas da situação. E isso até aconteceu, mas não foi fácil. A Saucerful of Secrets, de 1968, segundo trabalho de estúdio, foi classificado como medíocre por boa parte da imprensa, que não via futuro no grupo.

Apesar de tudo isso, o Pink Floyd seguiu trabalhando, experimentando e fracassando. Talvez o grande feito da banda foi ter aprendido com os erros, e tudo isso ajudou a potencializar algumas coisas. A que ficou clara logo após a saída de Syd é que Waters assumiu o papel de líder; a segunda foi que a posição de Gilmour na banda foi melhorando e ele, ao lado de Roger, se tornou um dos eixos do grupo nos trabalhos seguintes.

Em Ummagumma, de 1969, os elogios não vieram, mas ali aconteceu uma melhora significativa. Atom Heart Mother, de 1970, foi outro grande salto na qualidade das composições. Nos dois LPs seguintes, Meddle, de 1971, e Obscured by Clouds, de 1972, o Pink Floyd conseguiu críticas e vendas razoáveis.

Entre 1969 e 1972, a banda vinha trabalhando em algumas composições e, talvez, o grande feito de todos eles foi ter escolhido os shows para testar algumas das gravações que seriam a base do próximo disco, e “Us and Them”, “Money”, “The Great Gig in the Sky” e outras foram aprimoradas nesse meio tempo. Neste mesmo período, Roger Waters teve a ideia de construir o trabalho como uma peça única, já que as críticas à banda vinham de que o material produzido era bom, mas não o suficiente no geral. Então nasceu a ideia de The Dark Side of the Moon.

Gravado entre junho de 1972 e janeiro de 1974, The Dark Side of the Moon não surgiu ao acaso. Cada passo, cada música, cada movimento foi calculado com frieza e muito bem pensado durante as seções em Abbey Road. Não havia espaço para improvisações. Um grande exemplo disso foi a participação da backing vocal Clarie Torry, que foi reprimida por Gilmour ao tentar floreios em “The Great Gig in the Sky”.

Com grande colaboração do excelente engenheiro Alan Parsons, um dos chefes de gravação durante nas seções de Abbey Road, dos Beatles, o disco foi lançado não como um simples trabalh, mas um conceito. E com grande apoio da gravadora, o oitavo trabalho de estúdio do Pink Floyd entrou para a história como um dos grandes álbuns já feitos.

A capa foi feita com duas intenções: a primeira era apagar a má impressão dos discos anteriores; a segunda era dar um ar conceitual e clássico. Com um grande orçamento na mão, o designer Storm Thorgerson não teve dúvidas: junto com seus companheiros de empresa, foi ao Egito e fotografou as pirâmides, já que um desenho exatamente como a banda desejava tornou-se inviável. O prisma era para parecer um coração, e o arco-íris seria o batimento cardíaco. E assim foi feito.

Mesmo com tudo isso, The Dark Side of the Moon não começou bem nas paradas, mas foi subindo até chegar ao primeiro lugar e entrar na história. O LP também marcou algumas coisas na vida dos quatro membros da banda, e isso mudaria o rumo do Pink Floyd nos anos seguintes.


Resenha do disco

O início de The Dark Side of the Moon é com “Speak to Me”, que não tem letra, mas um pessoal dando risada, falando e uma série de efeitos, e logo já começa a densa e profunda “Breathe”. Cheia de textura e efeitos do Uni-Vibe, a canção mostra que a banda, definitivamente, havia abandonado a ficção cientifica e partido para assuntos do cotidiano, como morte, vida e amor.

A única canção registrada da parceria Waters/Gilmour no LP, “On the Run” é outra peça instrumental, e cheia de efeitos, que faz a ponte entre uma canção e outra. A partir do segundo 27, “Have your baggage and passport ready and then follow the green line to customs and immigration. BA flight 215 to Rome, Cairo and Lagos”. Um pouco mais à frente, em 1:54, o empresário de turnês da banda diz: "Live for today, gone tomorrow. That's me". E a experimentação continua até o início de “Time”, que começa com vários relógios fazendo barulho. A canção segue com Mason fazendo um solo de bateria, vários efeitos de guitarra e outros tipos de sons no background. Então entra a voz de Gilmour, acompanhada por um belíssimo coro feminino composto por Doris Troy, Lesley Duncan, Liza Strike e Barry St. John. A ponte feita por Wright no órgão é de um brilhantismo único. O solo, ainda na metade da canção, tem apenas o trabalho de consolidar uma das grandes canções da história do rock. Depois disso tudo, temos a reprise de “Breathe”, às vezes chamada de “Home Again”.

http://youtu.be/gqnjCkhRvPE

Sem parar em nenhum momento, entra o belo piano e começa a linda “The Great Gig in the Sky”. “And I am not frightened of dying. Any time will do, I don't mind. Why should I be frightened of dying? There's no reason for it – you've got to go sometime”, dita por um membro do staff do Pink Floyd. Depois temos a bela improvisação de Clare Torry no vocal. “The Great Gig in the Sky” é de uma emoção gigante, e é quase impossível não se emocionar com tudo – desde o vocal até a parte instrumental.

Outra canção cheia de experimentalismo, “Money”, que abre o lado B do LP, começa com um barulho de moedas até o momento em que a guitarra e a bateria aparecem. Grande amigo de Gilmour na noite londrina, Dick Parry foi chamado para tocar saxofone, e mostra que a banda nunca esqueceu sua grande influência – o blues americano. A canção também mostra um Waters em forma para tocar e compor, e isso elevou o patamar o baixista – até então, Gilmour era o grande músico do grupo, o que não era de se duvidar, já que o solo de guitarra está incrível.

O órgão dá um tom muito lírico ao início de "Us and Them", e logo a levada de bateria conquista de vez o ouvinte. Logo vem o sax de Parry mais uma vez, mas, diferente de “Money”, é algo mais delicado e sentimental. Nesta canção em particular, o baixo dá sustentação e leva a música por si só, deixando que os outros trabalhem. A voz de Gilmour casou muito bem com o coro feminino, e tudo isso unido conseguiu formar uma das canções mais completas já feitas. Indo para a parte final do álbum, logo começa “Any Color You Like”. Além do orgão muito agradável, o uso de sintetizadores de última geração, à época, cria uma atmosfera única em uma canção totalmente instrumental.

http://youtu.be/UZSkI7Egkxk

A penúltima canção é “Brian Damage”, que tem uma parte dela inspirada em Syd Barrett. Liricamente, Waters conseguiu construir a canção de uma forma que ela consegue ganhar peso, não só no LP, mas na história da banda e do álbum, já que é o rompimento oficial com o passado (Barrett) e o início de novos tempos no Pink Floyd. Também daqui saiu o título do álbum. Para finalizar, uma virada de bateria coloca o ouvinte em “Eclipse”, o último número de um álbum que é impossível ouvir uma canção separada da outra. A construção foi tão incrível, que o fim é o início de “Speak to Me”, abertura de The Dark Side of the Moon.

Ao tentar cortar laços com o passado, o Pink Floyd conseguiu construir sua maior obra prima. Reconhecido pelos quatro cantos do mundo, The Dark Side of the Moon foi uma espécie de revolução na música. À época, o experimentalismo estava em alta, mas não da forma como Waters, Gilmour, Wright e Mason criaram. Sem saber, mesmo com toda empáfia de Roger e David, eles criaram um conceito que rompeu as barreiras do tempo e segue tão atual como há 40 anos. Ao trabalhar temas tão complexos, a banda mudou o curso da história. Mas isso custaria muito caro em um futuro não tão distante.

http://youtu.be/0gXvVUg-VAE

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