Meus discos de 2016, por Rodrigo Carvalho


Mais uma lista de melhores do ano

2016 foi um ano cruel.

Poucas vezes concordamos tanto que um ano parecia interminável, onde cada dia parecia brindar apenas com uma nova tragédia ou perda.

A própria música passou por momentos extremamente difíceis (alguns com os quais estamos tentando lidar e entender até hoje). E talvez não seja coincidência que muitos dos álbuns que mais tenhamos nos identificado durante o ano parecem carregar sentimentos não lá muito positivos.
Por outro lado, talvez sejam nesses piores momentos que a arte se mostra mais necessária, algum tipo de conforto quando mais precisamos, não é mesmo?


ThriceTo Be Everywhere is To Be Nowhere

Existem bandas que desenvolvem sua própria sonoridade e agarram-se a ela com tanto afinco que pode ser interpretada (por vezes erroneamente) como excesso de conforto ou medo de mudança. E existem outras que parecem sempre incomodadas e inquietas, como se nada do que já tivessem feito fosse o suficiente. O Thrice pode ter deixado algumas de suas características para trás em nome de outras, mas mesmo com o hiato e a incerteza sobre o futuro, To Be Everywhere is To Be Nowhere mantém intacta suas expressões, agressões e frustrações sobre tudo o que parece errado com o mundo, carregado por um eufemismo que chega a tornar poéticas as atrocidades que vemos dia após dia. Não se trata de ser o álbum mais bem feito, produzido ou inovador de 2016, mas sim aquele que melhor o representou, com uma controversa sensação de dor e alívio, aquela cutucada na ferida que insiste em não deixá-la cicatrizar por completo.


AlcestKodama

Ao mesmo tempo em que Kodama pode ser o retorno àquele mundo onírico, onde serenidade e tormenta convivem harmoniosamente, ele explora também uma região inesperada, influenciado pela cultura asiática (em especial os debates sobre a natureza e a animação Princesa Mononoke), trazendo seus sutis elementos ao acidentado relevo que alterna entre black metal, shoegaze e pop. Kodama está plenamente inserido no universo no qual Neige baseia suas composições, mas como um local recém-descoberto e ainda sem limites definidos.


Touché AmoréStage Four

Não apenas o registra da reação de uma pessoa sobre a perda de um ente querido, Stage Four é Jeremy Bolan escrevendo mensagens com as quais qualquer um que já tenha passado por situação semelhante consiga se identificar (o vocalista perdeu a mãe em 2014 e cada faixa explora um aspecto disso). O hardcore do Touché Amoré carrega um pesar, uma raiva e uma angústia, uma mente levada ao limite como poucas vezes se ouviu, que se torna ainda mais significativo ao entender a origem de todos estes sentimentos.


GojiraMagma

Em eventuais momentos, um artista externa todos os seus sentimentos mais obscuros em sua própria obra na tentativa de ele próprio lidar com eles. O Gojira retrata em Magma todas as inseguranças, frustrações e esperanças que um processo de mudança desencadeia, o medo do inesperado e o vislumbre de o que pode acontecer daqui pra frente. O resultado é uma catarse que serve como ensaio para o próprio futuro de todo estilo que eles fazem parte.


A Day to RememberBad Vibrations

Talvez nem o metalcore nem o pop punk tenham a mesma importância de uma década atrás? Talvez os mais aficionados pelos estilos tenham envelhecido e buscado outros tipos de sonoridades e conceitos? Pode ser verdade, mas algumas bandas parecem ter acompanhado esse avançar natural do tempo e, mesmo que inconscientemente, se adequado aos anseios e preocupações de uma geração. Bad Vibrations não apenas soa como o mais denso e diversificado trabalho do A Day to Remember, mas consegue representar muito bem o que esta geração é hoje.



NothingTired of Tomorrow

Tired of Tomorrow pode remeter no primeiro instante a um ambiente crepuscular, um trabalho a deriva entre o post-punk, o shoegaze e o dream pop, que ao ser analisado mais profundamente revela uma brutalidade e reflexão que contrasta de forma absurda com a serenidade dos timbres e vozes. Uma representação bem coerente sobre o que é o Nothing além de sua música.



Cult of Luna & Julie ChristmasMariner

O Cult of Luna sempre foi um dos maiores representantes do post-metal no que diz respeito à sua proposta de levar o estilo por caminhos até então inexplorados, buscando inspiração no incomum com o propósito de atingir as suas margens mais remotas. Com a contribuição de Julie Christmas, a jornada em Mariner adquire um tom espacial, uma atmosfera flutuante capaz de transportá-lo de forma vagarosa e conturbada por cenários sombrios e remotos. Eventualmente desagradável e desesperador, mas intrigante sem a menor sombra de dúvida.


In FlamesBattles

Muitos podem acusar o In Flames de ter se perdido ao longo dos anos, e se um dos pilares do famigerado melodic death metal sueco carrega em seu espírito até hoje traços do estilo que redefiniu alguns conceitos no heavy metal há quase três décadas, ele também soa cada vez mais brando. Battles definitivamente não é o mais criativo, nem o mais pesado, tampouco um retorno às raízes da banda. É simplista, feito sobre uma fórmula propositalmente comum, básico até o osso, e exatamente por isso funciona como poucas vezes em sua trajetória recente.


RadioheadA Moon Shaped Pool

Há uma aura incômoda em A Moon Shaped Pool. Tudo parece estar conectado por um sentimento em comum. Cada momento ativa uma lembrança que você julgava esquecida, um sabor não exatamente agradável, como uma trilha sonora agridoce que remete diretamente àqueles dias cinzentos e úmidos, em que a sua única vontade é de simplesmente contemplar o nada por horas a seguir.


Anaal NathrakhThe Whole of the Law

Dave Hunt e Mick Kenney redefiniram o sentido de extremo. O Anaal Nathrakh tornou-se aos poucos uma besta descontrolada, uma entidade de força descomunal que simplesmente enxerga aquilo que destrói como mera poeira em seu caminho. Se o já clássico In the Constellation of the Black Widow (2009) trazia a amálgama de black metal, grindcore e industrial noise com equilíbrio notável, The Whole of the Law amplia a sua fórmula para algo ainda mais caótico e imundo, uma reverência plena à ideia na qual o título foi inspirado.

Siga  Rodrigo no Twitter

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!