Dez álbuns de heavy metal lançados em setembro que valem sua atenção


Por Rodrigo Carvalho

Ok, é certo que já passou um bom tempo desde o fim de setembro (isso, quase um mês), mas ainda assim é interessante levantarmos quais os álbuns lançados naquele período que se destacaram e por alguma razão foram deixados de lado, certo? E repetindo a tendência dos últimos anos, é um mês com lançamentos variadíssimos, com sérios candidatos a figurar nas listas de melhores de 2014 mundo afora. Ora essa, temos álbuns de bandas que se reerguem depois de experimentarem tempos obscuros, estreias de projetos mais do que promissores, ou até mesmo de grupos que nunca atravessaram o limiar do sucesso comercial, independente do estilo ou do tempo de carreira.

Logo abaixo, você confere alguns comentários sobre dez álbuns de heavy metal que não apenas valem a audição, mas apresentam um nível de imersão quase inacreditável e entregam experiências musicais bizarras, cômicas e perturbadoras.


Code Orange – I Am King

O lado mais cinzento de Pittsburgh, aquele que não aparece nas propagandas e convenientemente é deixado de lado nas estatísticas, é o berço do Code Orange (Kids), um dos mais promissores nomes da música tortuosa e desagradável desta década. Como frutos de um desajuste social, o quarteto apresenta em seu segundo álbum uma evolução tremenda em seu hardcore desconstruído, de tendências arrastadas, ruidosas, de ritmos quebrados e ininteligíveis em primeiro instante. Explorando de forma muito mais madura e evidente a combinação do caos sonoro do groove e do metalcore com shoegaze, noise e post-punk, I Am King é um registro vasto, brutal em sua proposta, como um documentário inclassificável sobre uma complexa realidade na qual não acreditávamos. Ou preferíamos não acreditar.


Corova – Rise Of The Taurus

Nos últimos anos, houve um aumento exponencial na visibilidade em relação às bandas de musicalidade mais arrastada, complexas e às margens da compreensão. Talvez bandas pouco palatáveis para o público geral, como Cult of Luna e The Ocean terem lançado alguns de seus mais profundos trabalhos também tenha algo a ver com isso. E na mesma onda de crias do sludge/post-hardcore/post-metal/doom, temos os alemães do Corova e o seu segundo álbum, Rise of the Taurus. Faixas longas, sem pressa em seu desenvolvimento, suportando uma densidade quase absurda trazida pela alternância de vozes, há uma atmosfera cinzenta, quase disforme. Todos aqueles elementos que compõe um bom disco sinuoso para aquelas tardes geladas e sem energia elétrica.


Decapitated – Blood Mantra

Algumas bandas atravessam tragédias inimagináveis ao longo de sua carreira. Em menor ou menor escala, nem todas têm força suficiente para se reerguer e seguir em frente. Depois do acidente que tirou a vida de seu baterista em 2007 e deixou marcas profundas em toda a banda, o guitarrista Vogg trouxe o Decapitated de volta à superfície com o absurdo Carnival Is Forever, quatro anos depois. Totalmente reestruturada, mas ainda tentando se equilibrar com suas cicatrizes, os poloneses proporcionam mais uma hecatombe de riffs torturantes, urros desesperados e técnica instrumental nos 45 minutos de Blood Mantra, seu sexto trabalho de estúdio. Assombrados por um peso abissal, o híbrido de thrash, death e groove metal vem como milhares garras, puxando-o para baixo, em direção à tormenta mental, de forma ainda mais variada e perturbadora do que antes. Torna-se fácil compreender por que eles são considerados uma das mais interessantes instituições da música extrema atual.


Empress AD – Still Life Moving Fast

Exageradamente divulgado como “a resposta britânica ao Mastodon”, como se isso fosse necessário nos idos de 2014, a estratégia utilizada pela Roadrunner para divulgar o disco de estreia do Empress AD mais confunde do que auxilia, e não faz justiça ao som do quarteto. Claro, há um que do despejo de riffs imundos dos mendigos de Atlanta e do post-metal americano, mas o fator mais interessante está em como isso é combinado ao rock progressivo e aos toques de metalcore típicos do Reino Unido. Talvez Still Life Moving Fast ainda não demonstre uma banda em seu ápice de amadurecimento, e tampouco seja um clássico absoluto. Porém, mostra uma banda que em seu debut já apresenta uma criatividade notável. E considerando o apoio que está por trás, há de se imaginar que o Empress AD está entre os candidatos à personagem principal do heavy metal nos próximos anos.


Evergrey – Hymns For The Broken

Poucas bandas incorporam os aspectos negativos do ser humano de forma tão honesta e impactante quanto o Evergrey. A perda da sanidade, questões religiosas, autoestima, a vida como um todo. E considerando o fundo do poço no qual eles bateram nos recentemente, quando estiveram próximos de encerrar as atividades, não chega a ser assustador o fato de Hymns For The Broken ser um de seus álbuns mais violentos, atmosféricos e reflexivos de sua discografia. Não apenas isso, a simplicidade abordada nos discos anteriores dá lugar à progressividade de outrora, aliada a experiência adquirida no caos e empurrando a si mesmo além de seus próprios limites. O Evergrey pode ter se despedaçado, mas a sua própria recomposição parece ser a força responsável por reerguer sua bandeira e voltar ao seu posto de uma das mais singulares bandas das últimas décadas.


Freak Kitchen – Cooking With Pagans

Hard rock que deixa muito da melação de lado em prol de boas doses de experimentalismo, sarcasmo e elementos que vão do funk ao rock progressivo? Bem, talvez esta sempre tenha sido a proposta frankzappiana dos suecos do Freak Kitchen - e ela permanece intacta em Cooking With Pagans, seu oitavo disco. Björn Fryklund, Christer Örtefors e o virtuose Mattias IA Eklundh entregam doze faixas carregadas daquele humor cheio de críticas que serve de pano de fundo para o instrumental que consegue equilibrar como poucos a simplicidade melódica e a criatividade musical sem limites. Mais uma banda que não conseguimos compreender como permanece às margens da obscuridade, depois de todos esses anos. Talvez o mainstream ainda não aceite muito bem (ou não esteja preparado para) faixas como “(Saving Up for an) Anal Bleach”.


In Flames – Siren Charms

Uma pesquisa rápida internet afora por resenhas sobre Siren Charms, o décimo primeiro álbum de um dos pilares do melodic death metal sueco, pode revelar várias coisas. Mas a primeira é: os fãs continuam indignados com os rumos tomados pela banda após a virada do milênio. Ora essa, Anders Fridén e seus amigos deixaram de lado aquela música extrema, de toques folk e vocais ríspidos em nome de outra mais amigável, cadenciada, com toques de industrial e rock alternativo. Que crime contra os seus verdadeiros fãs, não?

Não. O In Flames de The Jester Race ou Whoracle não existe mais, e chega a ser inconcebível o fato de, quase vinte anos depois, ainda não terem notado isso e continuarem esperando por um disco de melodeath vindo da banda. Muito pelo contrário, aliás, Siren Charms é um dos trabalhos mais suaves dos suecos, carregado por uma emoção pesarosa, personificada em riffs quebrados, dinâmicos, auxiliados pelas influências agregadas ao longo dos anos e manifestadas nos álbuns anteriores. O In Flames continua soando como In Flames, apenas de forma diferente – mas ainda assim facilmente identificável. Está na hora de lidar com isso.


Myrkur – Myrkur

Myrkur, do islandês, “escuridão”. Ou também a alcunha utilizada pela dinamarquesa Amalie Bruun para dar vida a este seu projeto solitário, em que não apenas é responsável pelas guitarras e baixos, como também insere os contrastantes vômitos ríspidos e vozes hipnóticas sobre um black metal de proporções gélidas, forjado em um ponto em que tradição e crueza se entrelaçam de forma mitológica. Com folk, ambientações épicas e contemplativas, e uma sensação meio DIY capaz de transportar para um lugar tomado pelo branco e pelo frio, o EP de estreia da Myrkur pode não ter a originalidade como sua característica determinante (comparações ao Burzum, Deafheaven, Alcest, Fen e algumas bandas americanas de black metal são recorrentes – e justificadas), ao mesmo tempo soa como uma brisa de esperança de que algo realmente grandioso ainda pode sair dali, parte integrante de um rejuvenescimento que o próprio estilo já vem passando há alguns anos.


Xerath – III

A união entre heavy metal e arranjos orquestrais, em pleno 2014, não é novidade pra ninguém. Tampouco o é a proposta de unir estes dois elementos para criar uma espécie de trilha sonora para o apocalipse, certo? Porém, há de se admitir que poucas são as bandas que não acabam por pender mais para um dos lados, no fim das contas  – e assim também fez o Xerath em seus dois primeiros discos. Mas o seu novo trabalho finalmente parece representar o ponto de ruptura pelo qual os britânicos vinham buscando: os ritmos esquisitos, que ficam entre Gojira e Meshuggah, se mesclam ao trabalho sinfônico que não deve em nada para um Septicflesh, ao mesmo tempo em que agregam a noção de rock progressivo que bandas como Haken e Between The Buried And Me incorporam com maestria. III é uma obra grandiosa, épica, uma fusão inacreditavelmente natural de gêneros que responde mais uma vez àqueles que ainda consideram o metal uma música limitada.


Yob – Clearing The Path To Ascend

“In Our Blood”, “Nothing To Win”, “Unmask The Spectre” e “Marrow”. Juntas, elas somam 62 minutos e 30 segundos de duração. Com estes dados, já é possível imaginar que os americanos do Yob não se distanciaram do seu culto ao doom em Clearing The Path To Ascend, sétimo trabalho da discografia e o primeiro pela Neurot Recordings. Não apenas isso, a sua ascensão catártica através das pedregosas e desniveladas trilhas passa pelo desespero e pela densidade de proporções espaciais, um buraco negro dentro de sua mente capaz de sugar sua consciência e deixá-lo vagando em meio ao inferno construído pelas quatro faixas, cada uma sendo uma tortura ao seu modo. Uma banda que incomoda, desafia e hipnotiza o ouvinte. E exatamente por isso, um doom metal que de fato cumpre o seu papel.

Outros 5 álbuns que também valem uma conferida:

Amplifier – Mystoria
DayDream XI – The Grand Disguise
Electric Wizard – Time To Die
Lonely Kamel – Shit City
The Contortionist – Language 




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