Resenha: Damon Albarn – Everyday Robots


Damon Albarn se mostrou muito mais do que o músico que gravou “Song 2”, a trilha sonora de qualquer coisa, na TV, rádio ou internet, que seja mais agitada. Explorando sonoridades em The Good, the Bad & the Queen, Kinshasa One Two Rocket Juice & the Moon Maison Des Jeunes e Mali Music, e ainda trabalhando em trilhas sonoras, o vocalista do Blur resolveu lançar seu primeiro trabalho solo, exatamente 20 após a explosão do britpop e de todo seu sucesso.

Faixa-título, a melancólica "Everyday Robots" mostra toda influência que Albarn absorveu nos últimos 15 anos. A mistura de elementos, todos se complementando, é uma boa maneira de mostrar que está em outra fase – não só de sua carreira, mas de sua vida. O início também é interessante para ver como é completamente descolado dos anos 1990, coisa que Noel Gallagher, outro ícone do pop inglês, não consegui fazer com seu High Flying Birds.

A delicada "Hostiles", com um refrão arrebatador (It'll be a silent day/ I'll share with you/ Fighting off the hostiles/ With whom we collude/ Hoping to find the key/ To this play of communications/ Between you and me), mostra que trazer o experimentalismo ao mainstream sempre vale a pena, principalmente em uma faixa como essa. Outra ótima: "Lonely Press Play", que tem o piano trabalhando muito bem com a bateria eletrônica. Certamente é uma que funcionará muito bem ao vivo.

Com participação do Leytonstone City Mission Choir, "Mr Tembo" é a história de um elefantinho que Albarn conheceu quando foi à Tanzânia trabalhar em seu disco solo. Por isso que a canção tem a força dos vocais de apoios dessa banda mais ritmos africanos, algo que o cantor procurou conhecer mais em suas inserções na África, e "Mr Tembo" é uma pequena parte dessa imensa pesquisa.

O interlúdio instrumental "Parakeet" antecipa a grandiosa "The Selfish Giant", que conta com a excelente Natasha Khan. Apenas o piano já daria à letra um tom melancólico incrível, mas a bateria eletrônica contribui, e muito, para o bom andamento. É dessas que é muito difícil não ficar com lágrimas nos olhos ao ouvi-la com atenção. Mudando da água para o vinho, Albarn chamou Brian Eno para participar de "You and Me", e é o conhecido produtor musical que comanda os sintetizadores e os vocais de apoio da faixa mais cheia de camadas (bem densas) em um vocal ao melhor estilo Lou Reed – ela é a única que ultrapassa os cinco minutos de duração.

Com ares de drama inglês dos anos 1960, "Hollow Ponds" contém muito da vida de Damon Albarn em seu bairro de infância onde passava sempre perto de um rio de mesmo nome da canção, que soa como um Velvet Underground do século 21, mas sintetizadores, vocais de apoio fortes, bateria e experimentalismo à vontade. Depois da instrumental "Seven High", a melancolia retorna em "Photographs (You Are Taking Now)", e o vocalista impressiona por conduzir muito bem e conta com o sample da voz de Timothy Leary, retirado do audio book The Psychedelic Experience: A Manual Based on the Tibetan Book of the Dead.

Só na voz e violão, "The History of a Cheating Heart" é a única que foge do que foi feito até aqui, mas ela ganha pontos pela letra belíssima. Brian Eno, o Leytonstone City Mission Choir e Albarn encerram Everyday Robots com o épico "Heavy Seas of Love", canção que coloca, definitivamente, o vocalista do Blur como um dos bons nomes da música contemporânea.

Damon Albarn soube se modificar ao longo dos anos em diversos projetos. E ao juntar todas as influências em um único lugar, mostrou que evoluiu não só como letrista, mas como compositor e produtor. Ao trabalhar com 39 nomes diferentes, entre produtores, músicos e bandas, ele conseguiu encaixar tudo isso em um álbum cheio de melancolia. Mas não é só isso, é muito mais. Everyday Robots prova que é possível um grande astro se reinventar ao buscar outros tipos de sonoridade. Ele quer muito mais que "Song 2".

Tracklist:

1 - "Everyday Robots"
2 - "Hostiles"
3 - "Lonely Press Play"
4 - "Mr Tembo" (featuring The Leytonstone City Mission Choir)
5 - "Parakeet"
6 - "The Selfish Giant" (featuring. Natasha Khan)
7 - "You and Me" (featuring. Brian Eno)
8 - "Hollow Ponds"
9 - "Seven High"
10 - "Photographs (You Are Taking Now)"
11 - "The History of a Cheating Heart"
12 - "Heavy Seas of Love" (featuring Brian Eno & The Leytonstone City Mission Choir)

Nota: 4/5



Veja também:
4 em 1: 311, William Fitzsimmons, Mark McGuire e Holy Wave
Resenha: Foster The People – Supermodel
Resenha: Raimundos – Cantigas de Roda
Resenha: Fernanda Takai – Na Medida do Impossível
4 em 1: Amy Ray, Hurray For The Riff Raff, Robben Ford e Nothing
Resenha: SILVA – Vista pro Mar

Siga o blog no Facebook, no Twitter e no Instagram

Comentários