Resenha: Coldplay – Ghost Stories


Se em X&Y o Coldplay havia entrado na irregularidade, Mylo Xyloto confirmou os temores de que o grupo inglês era um sério candidato a viver apenas dos dois primeiros discos e de singles nas paradas de sucesso. A reboque de todos esses fatores veio a separação do vocalista Chris Martin, que confirmou que isso acabou influenciando a composição e produção de Ghost Stories – o sexto trabalho de estúdio.

Com clima de igreja futurista, "Always in My Head" abre Ghost Stories de maneira melancólica. Cria-se todo um clima para reflexão e tristeza de quem escuta, e a intenção de Martin era essa mesma. O problema é a monotonia da faixa em si, que não se aprofunda em nada. E o refrão chato não ajuda no andamento, mas tudo isso é superado no bom single "Magic". Dá até esperança de ouvir algo melhor, porque a canção parece ter sido feita para fazer sucesso.

A acústica “Ink” tem o vocal se derramando pelo amor perdido, mas isso não deixa a faixa boa. Ela, diferente de “Magic”, é chata e entediante, e a torcida foi para que abasse logo essa tortura sonora. Mas veio outra coisa horrorosa: "True Love", uma das coisas mais melosas que ouvi em anos (o refrão Tell me you love me/ If you don't then lie/ Lie to me e a melodia devem fazer chorar alguns fãs).

Querendo ser épica, "Midnight" só consegue mostrar a mudança sonora da banda. Saem os instrumentos e a simplicidade de “Yellow”, entram teclados, sintetizadores, reverbs e toda tecnologia que tem direito. Produtor de Ghost Stories, Paul Epworth trabalhou com Adele em 21 e no tema do último filme da franquia '007', e ele é craque em condensar sentimentos em discos. Até aqui, "Another's Arms" é a canção mais visível em que a mão do produtor pesou nos floreios.

"Oceans", uma terrível imitação de Jack Johnson, mantém o nível para baixo. Porém o Coldplay está saindo uma bela máquina de singles, e "A Sky Full of Stars" tem cheiro de sucesso – desde o piano, que serve de fundo para o crescimento da melodia, até a letra com refrão grudento. Fora que é a única canção animada de todo disco, mas o problema é a cara de “música” feita pelo David Guetta. Para encerrar, a melancolia volta com tudo na ruim "O".

Quem se separou recentemente, vai ouvir esse álbum como quem come um prato de comida na hora do almoço, mas, de longe, é um dos piores discos do ano. O problema não é fazer um disco romântico, tem saber fazê-lo. Como outros fizeram antes e se saíram bem, o caso não acontece em Ghost Stories. O trabalho peca pelo excesso – não basta ser triste, tem que arrancar lágrimas com letras e melodias épicas. O Coldplay precisa se reencontrar ou viverá de singles.

Tracklist:

1 - "Always in My Head"
2 - "Magic"
3 - "Ink"
4 - "True Love"
5 - "Midnight"
6 - "Another's Arms"
7 - "Oceans"
8 - "A Sky Full of Stars"
9 - "O"

Nota: 1,5/5



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