Livro: Metallica – A Biografia, por Mick Wall


Mick Wall é dono de uma das melhores biografias musicais que li. Led Zeppelin – Quando os Gigantes Caminhavam sobre a Terra é cheia de detalhes e mostra o melhor e pior nas relações entre os quatro membros da banda que dominou as paradas nos anos 1970 e que ainda exerce fascínio dos fãs de música mais de 30 anos depois de seu fim.

Como bom jornalista que é, Wall sabe contar uma boa história, e isso aconteceu em Metallica – A Biografia. O início do livro traz, de cara, a maior tragédia da história do Metallica: a morte de Cliff Burton. Quem não conhece o grupo profundamente, como é meu caso, entra em choque ao perceber como a fatalidade os afetaria nos anos seguintes.

Um ponto de destaque é como o biógrafo consegue misturar bem depoimentos de Lars Ulrich, James Hetfield, Dave Mustaine, Kirk Hammett, Jason Newsted, Rob Trujillo e Ron McGovney – membros atuais ou passageiros – com impressões pessoais dele próprio, destacadas em itálico, e de empresários, sócios, amigos e outras pessoas fundamentais na carreira deles.

O fundamental de uma biografia, e do jornalismo em si, é sempre contar a verdade. E, talvez, não exista livro mais sincero do que esse. Desde mostrar um insistente e, por que não, ganancioso Ulrich tentando montar sua própria banda até os problemas de Hetfield com a bebida durante anos, Wall não coloca muros, tampouco protege os personagens de seu livro de erros cometidos – como a expulsão de Mustaine sem explicação ao guitarrista (o jeito dele aliado às quantidades enormes de álcool poderiam prejudicar a ascensão do então maior grupo do underground), que ainda guarda mágoas do episódio até hoje; o péssimo tratamento dado a Newsted durante mais de 15 anos, culminando na saída dele do Metallica gerando uma crise sem precedentes (não se sentir em casa enquanto alguns zombam de você e te minam aos poucos é a pior coisa que pode acontecer no ambiente de trabalho); e até mesmo a sessão de terapia em grupo que todos passaram no início dos anos 2000, momento em que Lars lutava com todas as forças contra o Napster sem notar o prejuízo moral que eles carregariam até hoje.

E é muito bom ver tudo isso, porque o sucesso também é fruto de fracassos ao longo do caminho. E se o Metallica chegou ao ponto de ser a maior banda de metal da história, não foi apenas tendo apenas primeiros lugares nas paradas e singles de sucesso. É interessantíssimo ver como as derrotas impostas afetaram todos durante anos, mas apenas um choque de realidade foi necessário para não só trazê-los de volta à vida, como para valorizar tudo que haviam feito e conquistado – fama, fortuna e filhos.

Esse livro é facilmente recomendado até mesmo para quem não é fã do Metallica, pois mostra que determinação e princípios podem fazer qualquer um chegar longe. E se os erros aparecerem, como no período pós-Álbum Preto em que eles se perderam quando deixaram de ser a novidade, que sirvam de exemplo para seguir em frente. Se hoje Lars Ulrich e James Hetfield são o que são, com suas diferenças, mas paixão inabalável pela música, eles devem se orgulhar. E ninguém melhor para retratar todas essas histórias do que Mick Wall, um dos grandes biógrafos da atualidade.

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