Livro: Mick Jagger, de Philip Norman


Inevitavelmente, todo homem terá algum mulher em sua vida – desde a mãe até mulheres que a vida lhe apresenta. Em Mick Jagger (Cia das Letras, R$ 49, 90 em média), Phillip Norman retrata cada parceira e cada envolvimento do vocalista dos Rollling Stones em quase 70 anos de vida (o livro abrange até 2012, um ano antes do aniversário de cinco décadas de banda), tudo isso aliado aos problemas pessoais e da mudança do aluno da London School of Economics em um dos maiores ícones da história do rock.

O trabalho do biografo em retratar o período pré-sucesso de Jagger é digno de nota e uma verdadeira lição de apuração jornalística. Afinal, é esse período que o mundo precisava conhecer e algo que Mick parece não estar disposto a contar – uma biografia do cantor foi esboçada nos anos 1980, mas pouca coisa foi conseguida a partir dos depoimentos do vocalista.

Os Stones nasceram da vontade de Brian Jones em ter uma banda de blues de sucesso. Entretanto, o carisma e charme, inexplicável para algumas pessoas, fez a roda mudar de dono e todas as atenções ficaram em cima de Jagger e seu rebolado que chocou a Inglaterra nos anos 1960. Careta com relação ao uso de drogas, ele, como bom menino criado para ter objetivos e foco na vida, determinou a si mesmo que seria um astro do rock. Bingo.

Norman não trata Mick Jagger como uma espécie de Afrodite masculina, apesar de inúmeras mulheres terem se encantado com ele ao longo de 50 anos de carreira. O biografo é duro em afirmar que o pai generoso e amoroso aos sete filhos de quatro mulheres diferentes é um carrasco quando a carreira e os negócios estão em jogo. E ele não hesita em tratar os outros membros da banda como meros empregados. Em uma dessas vezes, o calmo Charlie Watts perdeu a cabeça e desferiu um soco nos enormes lábios de sir Jagger.

O relato mostra que o amado cantor é um eterno adolescente mimado que faz tudo o que quer na hora que quer, e ele usa do artifício que vemos constantemente em alguns cantores brasileiros: alia-se ao que existe de novo nas paradas para parecer “cool” às novas gerações, algo que Keith Richards abomina. Aliás, a mudança no relacionamento entre os dois é tratada de maneira bem interessante – ela parte da admiração de Richards pelo amigo até o momento em que o guitarrista fica limpo das drogas e começa a questionar o modelo de gestão da banda, e isso gera a ruptura dos Rolling Stones por sete anos (entre 1982 e 1989).

Mick Jagger traz alguns detalhes constrangedores da vida pessoal e fica no limite entre biografia e fofoca de sites e revistas especializados. Divórcios, cifras gigantescas e mulheres traídas são um prato cheio para definir Jagger como um, vamos colocar assim, admirador confesso do sexo oposto. Mas coloca o líder do grupo como um homem carinhoso, romântico e capaz de agradar todas as parceiras. O trabalho de mais de 600 páginas também mostra como o vocalista adapta-se bem as situações que são colocadas para ele, inclusive mudando o sotaque de sua voz dependendo do local e das pessoas, e mostra como Jagger gosta de ser o centro das atenções por onde passa.

Rico em detalhes e com belas imagens, o livro é excelente e traz material até então desconhecido pelo grande público, e mostra a evolução de um rapaz de classe média, educado e tratado como gênio pelos professores até virar gestor e vocalista da “maior banda do mundo”, como assim é tratada no trabalho.

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