Resenha: Rod Stewart – Time


Rod Stewart pode não parecer, mas está nesse negócio de cantar há mais de 50 anos. Em meio século como vocalista, ele passou por inúmeros grupos, como o Jeff Beck Group e o Faces, que contava com o futuro guitarrista do Rolling Stones Ronnie Wood. Mas os últimos 20 anos não foram de grande produção de material inédito, com ‘Rod the Mod’ apostando mais em canções de outros artistas.

Na onda de retornos e biografias de grandes nomes da música mundial dos anos 1960 e 1970, ele não poderia ficar para trás. No início do ano, Stewart lançou sua polêmica autobiografia cheia de causos e lembranças do período em que tentava se firmar como vocalista de alguma banda. Também no primeiro semestre, quase dez anos depois do último álbum autoral, o cantor lançou Time, seu 29º registro em estúdio.

O álbum começa com a animada “She Makes Me Happy”, faixa que mostra de cara a influência celta com pop e como Rod Stewart, 68, está feliz com o que conseguiu em quase sete décadas de vida. Mantendo o ritmo bem animado, “Can't Stop Me Now” aposta em um refrão grudento e uma melodia sem muito segredo – o que, de forma alguma, é ruim.

Por incrível que pareça, o grande pecado de “It's Over” é soar como música de igreja no início para ganhar aquela pegada pop sem sal. Nem mesmo o arranjo de cordas salva, apesar de ter ficado muito bonito. A temática do trabalho fica clara quando Stewart mostra em três canções que uma separação não é fácil para ninguém, mesmo com ele feliz com a nova conjugue. Acústica, “Brighton Beach” tem uma pegada romântica e é bem delicada, uma das boas.

“Beautiful Morning” retoma o clima de animação, o que é sempre bom, mesmo com uma faixa abaixo da última. Já “Live the Life” é mais recheada de clichês do que o jornalismo esportivo brasileiro. É aquela bonitinha, porém ordinária, muito diferente de “Finest Woman” um rock ‘n’ roll de imensa qualidade em que tudo funciona – desde o coro de vozes femininas até o dueto do violão e da guitarra.

A canção-título do disco tem uma cara de anos 1970 gigantesca por tudo que a compõe. Desde o solo de guitarra entrando milimetricamente após o final do segundo verso até bateria, lembrando algo meio blues. É a faixa que mais tem cara de que foi feita para cantar ao vivo – momento em que as luzes são apagadas e só o cantor é iluminado, enquanto ele vê milhares de celulares brilhando em sua frente em um estádio tomado por fãs tomados por aquela parte confessional e extremamente pessoal.

Certamente inspirado pelos standards dos anos 1940 e 1950 que vem cantando nos últimos 20 anos, “Picture in a Frame”, escrita por Tom Waits, é nesse estilo: melodia leve, de curta duração, simples e direta. Completamente fora da proposta, “Sexual Religion” mistura gospel com música eletrônica, uma coisa horrível. Canção de boa letra completamente desperdiçada pela tentativa de transformá-la em algo para tocar nas casas noturnas.

Retornando ao início do disco, “Make Love Me to Tonight” tenta recuperar o fôlego da primeira metade de Time. Colocando ponto final na audição, “Pure Love” também traz um clima romântico-melancólico, um encerramento bem reflexivo e de alto nível para o retorno de Rod Stewart ao estúdio para gravar esse LP inéditas.

Time é um trabalho pautado pela dor e sofrimento de Stewart após uma separação e o encontro de uma nova mulher, mostrando que o tempo pode curar qualquer ferida. O problema está longe de ser a temática, explorada ao longo da história da música, mas da irregularidade em si. Ao mesmo tempo em que contém faixas ótimas, o disco tem algumas recheadas de clichês e sem sal. Mas, 50 anos depois do início da jornada de Rod, é muito difícil que qualquer um que já explorou todos os caminhos faça algo muito acima da média, por isso esse novo álbum é satisfatório e serve para mostrar que ele está mais na ativa do que nunca.

Tracklist:

1 - "She Makes Me Happy"
2 - "Can’t Stop Me Now"
3 - "It’s Over"
4 - "Brighton Beach"
5 - "Beautiful Morning"
6 - "Live the Life"
7 - "Finest Woman"
8 - "Time"
9 - "Picture in a Frame"
10 - "Sexual Religion"
11 - "Make Love to Me Tonight"
12 - "Pure Love"

Nota: 3/5



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