Resenha: Pearl Jam – Lightning Bolt


Diferente de muitas outras bandas, o Pearl Jam não ficou longos períodos sem gravar material inédito. O maior tempo sem um disco até então novo foi entre Riot Act, de 2002, e Pearl Jam, de 2006, e isso se repete agora, quando os membros da banda estão beirando os 50 anos.

Quatro anos depois de Backspacer a banda trabalhou entre 2011 e 2013 em Lightning Bolt, décimo trabalho de inéditas. Tudo isso aconteceu em meio aos projetos paralelos de Eddie Vedder e Stone Gossard, que lançou disco neste ano, e o retorno do Soundgarden, grupo em que o baterista Matt Cameron é membro original e saiu em turnê no ano passado.

O novo álbum começa com “Getway”, que tem cara de ser boa ao vivo. Apesar de não apresentar nada novo, a primeira canção chama por mostrar que quase um quarto de século juntos não foram em vão, pois temos uma banda muito afiada. Depois temos a excelente “Mind Your Manners”, lembrando os bons tempos de Vs., Vitalogy e No Code, e música escolhida para ser o primeiro single.

Em “My Father's Son”, Eddie Vedder retoma o assunto sobre paternidade, mas sem o mesmo brilho de outros tempos, enquanto a balada “Sirens” cumpre muito bem seu papel – tudo nela se encaixa perfeitamente bem em uma canção muito apurada e bonita. Faixa-título do novo trabalho, “Lightning Bolt” tem um pouco de calmaria, outro pouco de agitação, mas poderia ser melhor– destaque para as guitarras de Stone Gossard e Mike McCready.

Sexta faixa, “Infallible” funciona quando vira balada, com tudo que tem direito. O início, parecendo um rap ou algo do gênero, soou estranho. Talvez aqui seja o ponto em que o Pearl Jam quer mostrar que pode tentar algo diferente nos próximos anos, mas precisa melhorar bastante. Já a sombria “Pendulum” fala sobre a vida com uma melodia bem interessante.

Outra balada, “Swallowed Whole” tem um pouco do clima californiano de Vedder, que é de San Diego, ao falar de praia, vento e todas essas coisas – praticamente uma ode ao surfe. Depois, surpreendentemente, temos o funky em “Let The Records Play”. De cabeça, não me lembro desse tipo de canção na história da banda, mas não ficou ruim não e deve funcionar muito bem ao vivo com seus solos de guitarra e o baixo de Jeff Ament bem marcado.

Totalmente no clima de Ukelele Songs, Eddie coloca para fora o Jack Johnson que há dentro dele na fraca e sem graça “Sleeping By Myself”. Não recolocando as coisas nos eixos, “Yellow Moon” é outra faixa que pouco acrescenta ao trabalho. Encerrando o disco, “Future Days” conta com o tipo de letra que casa bem com essa nova fase do Pearl Jam: revista o passado e encara o futuro de maneira leve, apenas pensando em viver em paz.

Uma coisa clara é que o Pearl Jam está em outro ritmo. Não tem como mais esperar músicas ao estilo de “Mind Your Manners” – elas não vão acabar, mas devem diminuir bastante nos próximos discos. Outra coisa é que a banda de Seattle não parou e vem lançando discos com regularidade, semelhante ao feito pelo Mudhoney e o Teenage Fanclub – duas bandas excelentes que ainda não fizeram um álbum ruim em quase 30 anos de estrada.

Mas há um problema: o excesso de baladas e violões torna o álbum um pouco enfadonho em algumas partes, fazendo o Pearl Jam desperdiçar o talento de dois grandes guitarristas em alguns momentos. Porém temos que entender que eles não são mais jovens de 20 e poucos anos e cheios de energia – a voz de Vedder já não funciona da mesma maneira, por exemplo. Lightning Bolt pode até não ser um álbum brilhante, mas entra na história como ponto de virada da banda. Saem os grunges, aplaudidos de pé, e entram os senhores que apenas desejam viver seus anos finais bem.

Tracklist:

1 - "Getaway"
2 - "Mind Your Manners"
3 - "My Father's Son"
4 - "Sirens"
5 - "Lightning Bolt"
6 - "Infallible"
7 - "Pendulum"
8 - "Swallowed Whole"
9 - "Let The Records Play"
10 - "Sleeping By Myself"
11 - "Yellow Moon"
12 - "Future Days"

Nota: 3/5

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