Resenha: Mudhoney - Vanishing Point


O Mudhoney nunca teve a devida atenção do grande público, por isso acabou fadado ao terceiro ou quarto escalão na história da música dos anos 1990. Mas isso não foi suficiente para fazer a banda cair no esquecimento dos fãs, muito menos para Mark Arm encerrar as atividades. Eles seguiram fazendo canções e lançando ótimos discos desde então.

Cinco anos depois do excelente The Lucky Ones, a banda lançou em abril Vanishing Point, nono disco da carreira, lançado no ano de comemoração dos 25 anos do grupo e da gravadora Sub Pop – responsável por seis dos nove trabalhos do grupo. “Slipping Away” abre o LP com um solo de bateria arrebatador e logo emenda com uma guitarra ao melhor estilo punk. Depois a canção muda completamente e ganha um peso que só Sonic Youth e Pixies, duas das melhores bandas alternativas dos anos 1990, fariam igual.

Depois vem a dançante “I Like It Small”, cheia de ironias, a faixa joga o álbum para cima em um clima de festividade, muito diferente desse indie triste dos tempos atuais. “What to Do with the Neutral” tem uma melodia chorosa, mas é um festival de clichês bem usados. A animação punk volta na rápida e rasteira “Chardonnay”, emulando alguns dos trabalhos passados.

“The Final Course” é uma das melhores de Vanishing Point, e Mark Arm não tem a menor cerimônia para cantar sobre temas que não temos coragem para falar na frente de nossos pais. É como se ele fosse um amigo mais velho que incentivasse você a falar o primeiro palavrão. Em “Is This Rubber Tomb” temos uma faixa que soa bem, já em “I Don’t Remember You” é aquela típica música com uma história em um rock de garagem dos melhores.

Penúltima canção do trabalho, "The Only Son of the Widow from Nain" é absurdamente boa em tudo: no vocal gritado, na melodia punk e na letra rápida e rasteira. "Sing This Song of Joy" traz uma provocação: apesar de tudo, deve-se ter alegria na vida. Encerrando, "Douchebags on Parade" nada mais é que uma piada que virou letra.

Um dos grandes trunfos do Mudhoney foi não ceder às tentações do mercado fonográfico, que sempre busca a novidade ou alguém da velha guarda para ganhar alguns milhões de dólares. A banda formada por Mark Arm, Steve Turner, Guy Maddison e Dan Peters faz música por gostar disso, não para ganhar dinheiro – todos eles têm empregos fora do grupo, fora que a Sub Pop não conta com eles na hora de fechar o caixa anual, pois as vendas beiram o ridículo.

Vanishing Point é um disco muito bom, provando, mais uma vez, que Arm deveria ser olhado com mais atenção como compositor. Se no passado ele conseguia transmitir bem os sentimentos adolescentes, aos 51 anos ele consegue passar bem como é ser um senhor de meia-idade no século 21. Que o Mudhoney continue assim.

Tracklist:

1 - “Slipping Away”
2 - “I Like It Small”
3 - “What to Do with the Neutral”
4 - “Chardonnay”
5 - “The Final Course”
6 - “In This Rubber Tomb”
7 - “I Don’t Remember You”
8 - “The Only Son of the Widow Nain”
9 - “Sing This Song Of Joy”
10 - “Douchebags on Parade”

Nota: 3,5/5




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