O vídeo postado pelo Procure Saber na noite de ontem é um insulto à inteligência das pessoas. Apelando para frases de efeito e pausas dramáticas, o trio formado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Gilberto Gil tenta explicar, sem muito jeito, que não são contra censura prévia a biografias, mas pedem ajustes. Ou seja, são favoráveis que qualquer livro, filme ou documentário tenham autorização do biografado ou de algum parente próximo.
É uma vergonha que, em pleno 2013, o Brasil perca tempo nesse tipo de discussão que vai contra qualquer tipo de liberdade democrática conquistada com tanta luta há quase 30 anos. Esses artistas, elogiados por tantas vezes, pensam que são deuses ou algo do tipo e estão completamente fora da realidade do mundo.
O que esses senhores estão fazendo não é apenas proibir suas histórias, mas impedem que futuras gerações conheçam períodos do Brasil. Parece que ainda não ficou claro para eles: ninguém quer saber de fofoca ou da vida pessoal, quem é fã de biografias deseja apenas conhecer como aquele menino virou um grande cantor, político ou o quer que seja, e como isso aconteceu, e o momento político e histórico também seja retratado como pano de fundo.
Atualmente, o gênero biografia é muito bem trabalhado por jornalistas e revisado também por pessoas que trabalham ou trabalharam na área. Ou seja, uma boa biografia, feita por gente séria, não levará um ano de pesquisa, mas muito mais do que isso. Um exemplo é o livro que estou lendo, a biografia não autorizada de Mick Jagger escrita por Philip Norman. Ele levou 30 anos para colher material suficiente para escrever o livro. Isso mesmo, três décadas de pesquisa intensa e entrevistas para fazer um material que abrangesse o máximo possível de um dos maiores cantores do rock.
Qualquer livro ou picareta que apareça será jogado no limbo do esquecimento. E se o biografado estiver insatisfeito com o conteúdo, que entre na justiça. “Ah, a justiça é lenta”. É lenta em alguns casos, como ela não foi lenta para retirar de circulação a biografia de Roberto Carlos em 2007.
Essa postura já ultrapassou qualquer limite do aceitável. Caso o Projeto de Lei 393/2011 não seja aprovado, podem acabar com o Brasil porque um país que impede que sua história seja contada não merece mais do que ficar no cantinho da vergonha e do esquecimento. Espero que os deputados e senadores tenham o mínimo de bom senso e não se deixem influenciar como no caso da aprovação da lei da meia-entrada.
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Lágrimas e lágrimas
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