Lágrimas e lágrimas


O título do post foi a única coisa que consegui escrever ou falar logo após a notícia da morte de Lou Reed. Ele morreu no último domingo em decorrência de complicações de um problema hepático que o levou a fazer um transplante em maio deste ano. Nascido em Nova York, o guitarrista e emblemático cantor foi uma das referências para várias gerações de bandas dos anos 1970, graças ao Velvet Underground, grupo que não vendeu muitos discos, mas foi uma grande influência – uma lição para quem acha que vender muito é garantia de alguma coisa.

Lou não foi santo, muito menos uma pessoa fácil de lidar, de acordo com entrevistas feitas com ele em quase 50 anos. Por isso, não foi difícil construir uma imagem de “homem que não cedeu ao sistema” em torno dele. Um dos grandes momentos dele foi desprezar Lester Bangs, crítico musical idolatrado por várias gerações até hoje, simplesmente por odiar a imprensa. Bangs era destacadamente um de seus maiores fãs.

Se no início dos anos 1970 ele fez alguns de seus trabalhos mais brilhantes, o final da década não foi nada boa para ele, que optou por lançar discos apenas com barulhos de guitarras experimentais. Obviamente nenhum deles fez sucesso, mas parecia que ele gostava de viver isso, de ser um ícone dos mais abastados, do pessoal que ninguém não liga, mas que estão sempre aí.

Boa parte do mundo vivia a onda hippie de paz e amor no final dos anos 1960, enquanto Reed, John Cale, Andy Warhol e seus amigos trataram de falar sobre sexo, prostitutas, travestis e tudo que acontecia no mundo real, fundamental para entender o lado mais sombrio daqueles tempos. Ele passou por muita coisa em seus 71 anos como, por exemplo, um tratamento por eletrochoque autorizado por seus pais para “curar” seu bissexualismo. Tudo isso foi traduzido em letras e na forma de como lidar com os problemas.

A temática das letras sempre teve um peso muito grande na carreira de Reed. Nem todo mundo queria ser livre e viver em comunidades ou queria curtir o rock progressivo e seus shows intermináveis de três, quatro horas. Para ele, três acordes eram suficientes para fazer música boa (“mais do que isso é jazz”, disse ele uma vez). Esse tipo de posição foi fundamental para uma juventude que não via o mundo colorido dos hippies ou a lisergia do LSD, era para pessoas que gostavam de viver o mundo preto e branco. E isso foi um dos fatores que ajudaram no nascimento do punk, alguns anos depois.

Já sem o mesmo sucesso de antes, ele viveu uma última aventura ao convidar o Metallica no projeto de musicar Lulu, peça de duas partes do autor alemão Frank Wedekind. Gostei bastante, mas é compreensível as críticas negativas. Afinal, não é um disco comum, mas uma ópera rock conceitual, com atos e de difícil assimilação inicial. Claro que ele sempre fez o que quis e não a mínima para quem não gostou.

Você pode até não gostar de Lou Reed ou do Velvet Underground, mas não admitir a importância dele na música é confundir crítica com gosto musical, algo que vem dominando esse mundo de extremos que temos hoje. Reed foi tão importante quanto os Beatles e Bob Dylan, mas de uma maneira diferente, principalmente para uma classe abastada de jovens. Ele influenciou uma geração de pessoas que apenas acreditava que a música poderia representar algo maior que sucesso ou dinheiro. Era a música pura e simples, como arte e como deve ser. Lou se vai, mas sua influência fica para sempre.



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