Muse e a tentativa de dominar o mundo


O Muse entrou no Rock in Rio para encerrar os trabalhos do segundo dia da primeira semana do festival. E o trio formado por Matthew Bellamy, Christopher Wolstenholme e Dominic Howard mostrou que está disposto a dominar o mundo da música ao melhor estilo U2 sem a parte política da coisa.

Mesmo sem todo discurso emulado por Bono, eles têm o grave defeito de todo artista atual que deseja chegar ao topo: trata toda música como se fosse a última. Cheio de floreios, Bellamy é um grande frontman, sem dúvida, porém o exagero acaba tirando um pouco a graça de vê-lo. A discografia deles não é ruim, muito pelo contrário, e tem grandes momentos, mas o último disco, The 2nd Law, eles misturaram Queen, U2 e Daft Punk, e ficou bem ruim – os amigos do Geek Musical discordam.

O grande problema em tentar dominar o mundo é que você precisa abrir mão de várias coisas para massificar seu som e chegar ao maior número possível de pessoas. O Muse optou por isso ao tomar duas posições: a primeira é fazer um rock épico – ou ópera-rock –, transformando tudo em um grande momento, cheio de emoção e tocante, o que impressiona pela falta de referência atual.

A segunda foi entrar na trilha sonora da saga Crepúsculo. Se é para dominar o mundo e levar o som ao maior número de pessoas, natural que esse tipo de caminho seja tomado. Afinal, nada melhor, e mais fácil, para atingir um grande público do que fazer parte de um sucesso, mesmo de qualidade duvidosa, nos cinemas. Pronto, o caminho está traçado – é só ver pela quantidade de jovens na plateia do show do grupo no Rock in Rio.

Tudo que é alternativo e vira sucesso é questionado, não tem muito jeito. É assim desde sempre. O problema é perder um pouco da característica, caso do Muse. Eles melhoraram, sem dúvida, mas estão pagando o preço por isso. Matthew Bellamy não é Freddie Mercury, nem Bono, nem sua banda será U2, muito menos o Queen. Outro ponto é que várias bandas estão traçando o mesmo caminho da dominação mundial.

The Killers, 30 Seconds to Mars e Coldplay, todos eles caíram na armadilha U2 de tentar dominar o mundo. Deu nisso aí. O vocalista do primeiro pensa que é Freddie Mercury, o vocalista do segundo pensa que é Robert Plant, enquanto o último pensa que vai salvar o mundo dos feios e bobos. Fora que tudo soa artificialmente ruim, de um modo geral. Nada é muito original, e tudo é milimetricamente calculado para impressionar visualmente. Mas não adianta impressionar com os apetrechos se a música, o que realmente importa, é ruim.

Assim como Muse, já gostei mais das bandas citadas acima, principalmente quando eles chegaram e só tinham a música para mostrar, nada disso de dominar o mundo. É como tentar mostrar às pessoas que a fase da água do Mário é fácil, mas todo mundo sabe que não é. E não é fácil mostrar, e ter a aceitação, que sua música é boa, ainda mais quando o comparativo acontece com grupos que realmente dominaram o mundo, caso do U2 e do Queen – a parte a atual situação deles no cenário.

O projeto de dominar as paradas está em pleno vapor e não para tão cedo, e isso não é proibido, mas sempre lembrando que é para poucos. E bons.

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