O encerramento da MTV Brasil traz muitas coisas à tona. Não só lembranças afetivas daquele canal do início dos anos 1990, mas momentos de adolescente no computador em alguma sala de chat do canal ou torcendo por algum clipe legal passar no Disk. Enfim, tempos que não voltam mais.
O sentimento é de que um canal transgressor se vai, e isso significa o último suspiro desse tipo de programação na tela da família brasileira. A MTV Brasil teve de tudo um pouco, desde um jornalismo musical muito bom até o primeiro beijo gay. Nesta nova fase, de 2005 para cá, humoristas como Marcelo Adnet, Paulinho Serra, Dani Calabresa e Bento Ribeiro foram revelados fazendo um tipo de humor mais próximo da realidade – bem diferente do visto no Zorra Total e na Praça É Nossa, que têm seus méritos, mas não dialogam com todo tipo de faixa etária.
Na última transmissão ao vivo, coloquei no Twitter que erros de gestão somado ao desinteresse da Abril em continuar com o canal foram determinantes para o desfecho. Talvez. Uma emissora não fecha de graça. E muitas coisas precisam acontecer para o fim.
Na música, nas artes e na vida sempre existem casos de pessoas que envelhecem mal. “Fulano tem 40, mas tá com cara de 50”, já ouvi por aí. Talvez tenha sido isso. A MTV não soube envelhecer. À medida que a antiga audiência foi crescendo e abandonando o canal, uma nova geração foi surgindo e pedindo mais e mais. Mais interação, mais opinião, mais interesse em palpitar na programação. Como bem sabemos, deixar tudo na mão da audiência nem sempre dá certo.
Nos últimos cinco anos, a programação foi reformulada e os programas musicais voltaram, uma tentativa de corrigir erros. Gaía Passarelli, Chuck Hipolitho e China foram contratados para trazer a música novamente na programação, e a eles o humor seguiu como carro-chefe, pois contava com grandes nomes. Mas, nesses novos tempos, é difícil competir com YouTube, Google, Wikipédia, Twitter e Facebook. Todos os programas musicais eram bons e interessantes, mas foi o último sopro de uma possível retomada da música.
Nesta segunda-feira, o canal que conheci fecha. No dia seguinte, abre outro mais americanizado, mais terceirizado, e menos brasileiro, talvez. Sim, pois ser uma das últimas filiais a abandonar a independência e ser mais uma não é para poucos. Talvez dê certo essa TV mais pop, mais jovem e mais consumível entre uma geração que pouco vê TV e muito responde mensagens no celular.
Alguns VJs marcaram mais do que outros, alguns clipes marcaram mais do que outros, alguns programas marcaram mais do que outros. Desde a primeira fase de VJs até a fase das celebridades, passando pelo humor, tentou-se de tudo um pouco. Acertaram e erraram, faz parte.
A nostalgia sempre bate e é uma pena ver um canal fechando, e agora a MTV será tão enlatada quanto esses outros canais de música atuais. Mas uma coisa é certa: essa nova nunca será a minha MTV, a que conheci e aprendi a gostar lá em meados dos anos 1990, e ajudou a abrir este espaço. Sim, acredito fielmente que este espaço só existe pelas aulas de música que via diariamente somados a clipes e novidades.
Fim de uma era, eu diria.
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