Bruce Springsteen e a crise no rock de verdade no Brasil


Bruce Springsteen é um dos maiores nomes do rock desde os anos 1970, quando resolveu deixar um pouco a raiz folk de lado para apostar em rock de protesto e melodias belíssimas. O resultado é que The Boss, como é conhecido, virou referência não só em composições, mas também em como angariar público para lotar apresentações.

Recentemente, no site do jornal inglês ‘The Guardian’, saiu uma matéria sobre a relação de Bruce e seus fãs, e conta com uma aspa ótima: “Bruce confia em você, e você confiará em Bruce”, disse um dos milhares de espectadores do guitarrista. É isso. As letras dele dialogam com qualquer pessoa, de qualquer idade, gênero e grau social. 

As apresentações de Springsteen são loucas. Não existe setlist definido, tampouco existe padrão de músicas executadas. É sempre uma surpresa, fora que ele escolhe um fã que leva um cartaz com o nome de uma música – de qualquer artista –, e ele toca, sabendo ou não a melodia. Quantos shows já vi no YouTube de ele e a E Street Band ensaiando a canção na hora. E fica lindo, mesmo que saia errado. 

Bruce lota estádios e casas de shows pelo mundo, o que não seria diferente no Brasil, certo? Errado. Enquanto apresentações de artistas batidos e sem graça lotam, The Boss ainda não teve sua única apresentação no Brasil fora do Rock in Rio esgotada. Bon Jovi, Beyoncé, Iron Maiden e outros tantos que vêm aqui sempre já estão de casa cheia. E nada de esgotar a do autor de “Born in the USA”.

Isso denota uma imensa crise no rock de verdade no Brasil. Como assim os oito mil ingressos não foram todos vendidos? Jurei, e até postei isso no Twitter, que não daria nem para começar, mas me enganei. Ainda restam ingressos e, pela perspectiva, não devem acabar. Uma pena, de verdade. Bruce Springsteen, pelo que representa ao rock e à música de verdade, merece muito mais do que isso. Mereceria lotar o Morumbi, pelo menos. E, além de tudo isso, o dia dele no Rock in Rio foi o menos procurado, mostrando que o pessoal não gosta de rock.

Ok, podem até gostar de rock, mas não do rock de verdade, do rock com testosterona, do rock que emociona e faz pensar sobre a vida e sobre o mundo. Bon Jovi? Rock de pau mole e feito para gente que vai ao Vila Country pegar umas gatas e gastar dinheiro com whisky. Iron Maiden? Desculpem os fãs de metal, mas não dá. Aliás, não dá há 15 anos, pelo menos. É sempre a mesma coisa toda apresentação, não muda nada.

Parece que é mais fácil gostar de bandas que fazem rock comercial e que ninguém vai lembrar no ano seguinte. Bruce lançou um disco excelente ano passado – eleito por mim como melhor álbum de 2012. Uma pena que poucas pessoas tenham se interessado para ouvir e correr atrás. 

Sem dinheiro, não poderei ir ao show do Boss em São Paulo, muito menos ir ao Rock in Rio. Mas se tem uma apresentação que recomendo muito aos amigos é a dele. Mesmo que dure a metade do tempo da atual turnê, mesmo que ele não toque sua música favorita, vá. Vale a pena ver Bruce Springsteen empunhando sua guitarra e tocando canções que, certamente, podem tocar seu coração e até mudar algumas vidas. Nunca o vi ao vivo, mas sei que vale a pena. Porque eu confio em Bruce Springsteen.

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