O mito chamado Randy Rhoads



O rock é como se fosse mitologia grega. É impossível ter apenas um Deus, já que cada braço do ritmo que balança corações desde os anos 1950 tem suas próprias religiões, opiniões e seu próprio Deus. E um deles é Randy Roads, ex-guitarrista da banda que acompanhou Ozzy Osbourne logo que o vocalista foi demitido do Black Sabbath e partiu para a bem-sucedida carreira solo.

Ozzy estava para morrer quando, incentivado por Sharon, então ainda apenas empresária do cantor, anunciou audições para buscar músicos e montar sua própria banda. Rhoads chegou, tocou alguns riffs, impressionou um Osbourne bêbado e logo ganhou o emprego como guitarrista. E mal sabia ele que ali seria o caminho para o sucesso.

Randy era desses guitarristas que aparecem a cada dez, 20 anos. Dono de uma técnica muito poderosa, ele era um estudioso da música e, segundo Ozzy em Eu Sou Ozzy, vivia estudando – Rhoads contratava um professor em cada cidade para treinar e aprender mais sobre harmonias e sobre o instrumento que tanto amava.

Foi um pouco graças à contratação que o ex-Black Sabbath conseguiu ter um sucesso inimaginável logo em seu primeiro álbum sem Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward. Blizzard Of Ozz tem músicas excelentes, e o guitarrista mostrou do que era capaz de fazer em “I Don’t Know” e “Crazy Train”, logo as duas primeiras canções do álbum.

O início de “I Don’t Know” coloca no chinelo qualquer coisa que qualquer guitarrista pode fazer atualmente – tirando os deuses da guitarra, claro. O riff da faixa é a faixa, e é ele que faz toda a diferença. E a ponte entre a primeira e a segunda parte? É o máximo. E finalizando essa obra-prima, ainda temos o solo. “Crazy Train” não é muito diferente: solo de um nível muito acima, um riff reconhecível logo de cara e uma marca.

Randy Rhoads deixou sua marca no metal em dois álbuns gravados como guitarrista de Ozzy Osbourne. E os dois não mantinham uma relação entre vocalista famoso e um operário que tocava guitarra. O cantor tinha uma afeição pelo iniciante no showbiz e o incentivava a criar e buscar coisas fora do heavy metal. Um ano depois, eles voltariam ao estúdio para gravar outro álbum: Diary Of A Madman, que também rendeu a Ozzy outro bom momento enquanto artista solo.

Dos estudos, veio a vontade de se formar em música na Universidade da Califórnia em Los Angeles. E ele manifestou o desejo de sair da banda por algum tempo para tentar a graduação, e Ozzy, anos depois, confirmou que não via Rhoads fazendo turnês com ele por muito mais tempo.

No dia 18 de março de 1982, Randy morreu em um acidente aéreo, e Ozzy conta isso com muita tristeza em sua autobiografia. E foi a partir deste momento que nasceu a lenda. Ele já era venerado por alguns pelo seu jeito inovador de tocar – uma mistura entre o punk e neoclássico, totalmente diferente do que qualquer guitarrista do metal fazia naquele início de década. Rhoads morreu eleito a grande revelação de 1981.

Deuses da guitarra não nascem de graça. Um exemplo disso é Eric Clapton, que foi colocado nessa posição ainda muito jovem e sentiu a pressão ao se entregar ao vício em cocaína. A ressurreição veio ainda nos anos 1970 e, desde então, o guitarrista foi colocado de vez no panteão em que poucos estão lá.

Rhoads foi colocado lá, mas ninguém sabe o que teria acontecido com ele. Teria tido uma queda na carreira com o passar do tempo? Teria abandonado o rock e virado professor de guitarra em alguma escola? Teria montado sua própria banda e teria tido sucesso? Ninguém sabe. Só sabemos que ele, aos 25 anos, contribuiu muito mais ao rock do que pessoas que estão por aí há décadas e décadas apenas recebendo louros sem dar retorno algum.

Ninguém vira mito de graça. Ninguém é exaltado de graça, principalmente utilizando um instrumento que muitos antes dele tiraram coisas inimagináveis. Randy Rhoads foi um sopro rápido, mas que deixou marcas profundas na música. Ainda bem que podemos ouvir sua guitarra ecoando por aí.

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