Fora do Eixo, bandas sem pagamentos e capitalismo hippie

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Nas últimas semanas, o Fora do Eixo tem sido principal alvo de discussões nas redes sociais, tudo por conta da participação de Bruno Torturra e Pablo Capilé no Roda Viva de quase duas semanas atrás. Textos enormes foram postados no Facebook e em blogs explicando e marcando posição – contra ou favorável ao grupo.

Mesmo com tudo isso, ainda é difícil entender a situação como um todo. A única coisa que ficou clara é que o FdE participa de inúmeros editais e sobrevive disso. Ou seja, o que deu a entender é que a Mídia Ninja, comandada por Torturra e que apareceu com força durante as manifestações em junho, é financiada com dinheiro público, basicamente.

Outra coisa que ficou bem clara é ex-membros do FdE demonstram mágoa ao falar dos dias em que estiveram por lá, o que não deixa de ser interessante, pois são depoimentos fortes e contam um pouco de como era (é) a organização – tratada por alguns como um tipo de seita religiosa em que Capilé é tratado como Deus.

O que me deixou mesmo bem abismado foi o não pagamento de cachês às bandas participantes de festivais organizados pelo FdE. Um pouco pela mídia, um pouco pelos fãs, bandas acabam sendo tratadas como membros de um seleto grupo de uma coisa qualquer. Porra, tocar em uma banda é um trabalho como outro qualquer. Tocar em banda é o ganha-pão de muita gente, que optou por fazer o que gosta, e não virar funcionário público ou fazer uma faculdade.

Que seja para dez, cinco, uma pessoa, tocar em uma banda é a porra de um trabalho. Imaginem como deve ser para um cara sair de Pernambuco, por exemplo, tocar em São Paulo, receber alimentação, hospedagem e um aperto de mão ao final da apresentação. O mundo não é feito de cubo cards, o mundo é capitalista e todos precisam de dinheiro para comer, comprar roupas, se divertir, investir no próprio negócio, sustentar a família. Não existe esse negócio de não pagar à banda. Garanto que a banda não ganha os instrumentos. Garanto que a banda, quando alguma coisa quebra, eles não ganham as peças na loja.

Existe uma espécie de cultura hippie que permeia parte do mundo dos negócios ainda no século 21. Tudo é na base da colaboração e na troca: um cede mão de obra, outro cede o espaço, e todos ficam felizes. Mas não é legal não receber pelo trabalho, enquanto outros estão ganhando dinheiro. Se aproveitar da boa vontade e da empolgação dos outros não é legal.

Enfim, o Fora do Eixo conseguiu, em uma semana, ser alvo de inúmeras pautas, discussões e textos na internet. O interessante agora é ver se eles vão conseguir se sustentar, já que, com todas essas denúncias rolando, não deve ficar mais fácil conseguir vencer editais. Como diria aquele jogador, vamos ver se o FdE é tudo isso mesmo.

Aqui, uma entrevista do André Forastieri com Pablo Capilé. Aqui e aqui, dois textos incríveis do Marvio dos Anjos sobre seus tempos no FdE. Aqui, a versão de Capilé.

http://youtu.be/vYgXth8QI8M

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