Resenha: Beady Eye – BE

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Logo após a dissolução do Oasis em 2009, os irmãos Gallagher partiram para suas carreiras fora da banda que ajudaram a popularizar – seja pelas inúmeras brigas via imprensa, seja pelas músicas incríveis que marcaram uma geração de fãs até os dias de hoje. Com experiência nas composições e sabendo trabalhar um disco como poucos, Noel fez de Noel Gallagher's High Flying Birds um dos grandes lançamentos de 2011. Com músicas absurdamente boas, o trabalho consolidou o Gallagher mais velho com um dos grandes compositores ingleses da história – talvez o melhor de sua geração.

Um ano antes de ver o irmão acumulando os louros do sucesso, Liam, junto com Gem Archer, Andy Bell e do baterista Chris Sharrock, músicos que estavam no Oasis na fase final da banda, anunciava a formação do Beady Eye, e, em novembro de 2010, “Bring the Light” foi anunciada e colocada como single para download no site da banda. Diferente de qualquer registro da antiga banda, o Gallagher caçula parecia querer flertar com os anos 1970, com um rock com piano no melhor estilo Jerry Lee Lewis.

Mas “a banda melhor que o Oasis”, segundo Liam, não pintou, e Different Gear, Still Speeding não agradou críticos, muito menos fãs. E ele teve que ver, de longe, o irmão fazendo sucesso. Então, após uma pausa, a banda trabalhou bastante, amadureceu melhor as ideias como novo grupo e lançou BE, segundo trabalho de estúdio. Lançada como primeira música do novo álbum, “Flick of the Finger” abre com a base feita com instrumentos de sopro junto com a bateria, e assim a batida segue até a entrada do vocal. Variando com riffs de guitarra, a canção soa autobiográfica – a parte final ganhou participação de Kayvan Novak lendo um trecho de Street Fighting Years: An Autobiography of the Sixties, de Tariq Ali, quando o título da música é citado.

Mudando um pouco os rumos, “Soul Love” é uma balada inteira no violão e tem a pretensão de ser uma música romântica, mas, assim como a primeira, soa reflexiva e formal. O primeiro rock propriamente dito só aparece em “Face the Crowd”, que deve soar muito bem ao vivo devido ao refrão para cantar alto e dançar, além das guitarras agitadas e da bateria firme de Chris Sharrock.

Lançada como primeiro single, “Second Bite Of The Apple” tem um tom místico e tenta criar uma atmosfera épica, mas sem sucesso. A canção fica se repetindo nela mesma e, sem sair do lugar, acaba sendo pegajosa e enfadonha. A quinta faixa, “Soon Come Tomorrow”, é outra balada e jogou o disco para cima um pouco – bem pouco, na verdade. Mas o clima melhora em “Iz Rite”, outra balada. É uma bonita canção de amor, diga-se.

O rock retorna em “I'm Just Saying”, e a canção lembra muito as músicas feitas por John Lennon em sua carreira solo – o beatle é uma inspiração declarada de Liam. Voltando ao clima tranquilo, “Don't Brother Me” é a melhor canção de BE. Apesar de ser outra música mais lenta, o Gallagher mais novo expõe escancaradamente sua não-relação com o irmão. Cheio de ironias e pedidos, ao que parece, tudo que Liam deseja é a paz. O verso “Come on now give peace a chance/Take my hand, be a man” mostra o claro desejo de uma reconciliação. Agora adulto e com filhos, o irmão mais novo parece pedir colo ao mais velho em uma canção muito bonita e reflexiva, que fica apenas na batida até o encerramento.

Caminhando para o final, “Shine a Light” começa no piano e segue em uma batida envolvente e animada, após um clima inevitável de tristeza. Em mais uma de amor, “Ballroom Figured” é outra balada fraca e descartável, enquanto “Start Anew” encerra falando em recomeço – mesmo com uma mulher sendo o eixo central, é inevitável não pensar na relação entre os Gallagher.

Agora com dois guitarristas e com um novo baixista (Jay Mehler, ex-Kasabian, reforçou o time neste ano), o Beady Eye tem tudo para soar melhor ao vivo, mesmo com a fragilidade eminente da voz de Liam – que não tem a mesma potência da época do Oasis e não deve melhorar com o passar dos anos. Talvez, por isso, o número de baladas tenha aumentado consideravelmente, assim como a participação dos outros membros da banda já no trabalho em estúdio. BE tem poucos momentos dançantes e de rock, e parte para uma linha mais reflexiva e de baladas – rasas ou profundas. Tudo isso parece soar natural para pessoas com mais de 40 anos, idade em que Lennon, ídolo de Liam, também se questionava muito e falava em fazer um álbum para pessoas de sua faixa etária (disso saiu Double Fantasy, de 1980, último álbum do cantor e guitarrista em estúdio).

Se Different Gear, Still Speeding, mesmo com algumas boas músicas, soa apressado e confuso em alguns momentos, talvez BE fosse o disco que os fãs do Oasis esperavam de Liam Gallagher e o que sobrou da melhor banda inglesa dos anos 1990. Mais maduro e melhor trabalhado, o segundo registro mostra que existe uma vida sem Noel, mesmo com alguns pecados. Se faltou competência na estreia, BE mostra que o amadurecimento pode ser a chave definitiva para sair das amarras da antiga banda e se firmar ainda mais como Beady Eye.

Tracklist:

1 - "Flick of the Finger"
2 - "Soul Love"
3 - "Face the Crowd"
4 - "Second Bite of the Apple"
5 - "Soon Come Tomorrow"
6 - "Iz Rite"
7 - "I'm Just Saying"
8 - "Don't Brother Me"
9 - "Shine a Light"
10 - "Ballroom Figured"
11 - "Start Anew"

Nota: 3/5

Comentários

  1. Gem Archer e Andy Bell não são membros originais do Oasis. Eles entraram na banda ali por 2000. Quando o Oasis começou, o Gem estava no Heavy Stereo e o Andy no Ride.

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  2. Opa, arrumei lá, caro amigo. Valeu pelo toque ;)

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