Resenha: Daft Punk – Random Access Memories


Após trabalhar o lançamento como poucos, usando as redes sociais para promover Random Access Memories, o Daft Punk pode dizer que a missão foi concluída ao ver que o disco só vazou quando o iTunes disponibilizou a audição de graça. Antes disso, apenas veículos e jornalistas convidados tiveram acesso ao novo trabalho de Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter, o primeiro desde Human After All, de 2008 – sem contar a trilha sonora do filme Tron: O Legado.

Logo na primeira faixa, "Give Life Back to Music", temos a participação de Nile Rodgers, um dos últimos gênios vivos da guitarra. O groove e o vocoder dão o tom excelente da canção, que mistura um pouco de rock e eletrônico. O duo vira a chave logo na segunda canção, e "The Game of Love" é uma balada leve, mas que tem com tons de melancolia na voz de Bangalter.

Na sequência temos um monólogo de Giorgio Moroder, famoso produtor italiano e muito respeitado pelo que fez nos últimos 40 anos. Ele, ao longo de quase dois minutos, faz um pequeno resumo do que foi sua carreira e se apresenta à nova geração. É uma canção que começa bem no estilo disco até crescer e ganhar tons mais convencionais, com uma mistura de ritmos. "Giorgio by Moroder" soa como uma homenagem – e deve ser isso mesmo.


"Within" é mais uma balada com voz triste, e a atuação do pianista Chilly Gonzales está incrível. Com a participação de Julian Casablancas, “Instant Crush” não tem nada de Daft Punk e parece muito mais uma canção solo do vocalista dos Strokes do que do famoso duo. A história é que eles simplesmente entregaram a canção a Julian para ele gravar da maneira que achasse melhor. E não ficou ruim.

Chamada "Lose Yourself to Dance", a sexta faixa começa com a incrível guitarra de Rodgers mandando ver, e isso é o chamado para a primeira participação de Pharrell Williams em Random Access Memories. Aqui a disco music ganha uma justa homenagem. O álbum ganha outra virada na faixa escrita e cantada por Paul Williams em parceria com o Daft Punk, já que “Touch” é, de longe, a canção mais complexa. São pedaços de música que juntam desde a pegada psicodélica, passando pelo jazz até o rock-eletrônico, para criar um épico de mais de oito minutos.

Então, finalmente, chegamos a “Get Lucky”. Realmente, a dupla acertou ao lançar a música mais charmosa como single. Da primeira vez, confesso que não gostei, mas é difícil não ficar com o refrão dela na cabeça. Além disso, Rodgers e Pharrell fazem outra parceria muito boa. Em outra participação de Paul Williams na criação, “Beyond” começa como um épico, com uma orquestra aparecendo logo no início. À medida que a canção avança, o vocoder volta, e vamos assim até o final.

“Motherboard” mostra que é possível deixar a música eletrônica mais humana e mais profunda, até certo ponto hippie – é uma bonita faixa instrumental. Logo após isso, temos a segunda imersão no pop. Depois de “Get Lucky”, "Fragments of Time" tem cara de single, principalmente pela voz de rádio FM que Todd Edwards, outro convidado, tem e pelo tom californiano da canção.

Perto do encerramento, "Doin' It Right" aparece como única que remete totalmente ao estilo eletrônico. Com a participação de Panda Bear, ela não é das melhores do álbum. Encerrando o trabalho, com a participação do DJ Falcon, “Contact” tem o áudio da missão Apollo 17 e vai avançando até chegar a mais um épico que mistura bateria, guitarras, sintetizadores e uma orquestra. Se a intenção era finalizar com maestria, eles conseguiram.

O Daft Punk tem em Random Access Memories o álbum menos parecido do que qualquer coisa que produziu antes. Ao invés de buscar referências em si, como fez David Bowie recentemente, o duo francês optou por agregar ritmos e pessoas, e fazer homenagens a ritmos e influências, principalmente aos anos 1970 e 1980. O grande pecado é a duração - mais de uma hora é muito tempo.

Outro ponto favorável é a mudança de dinâmica de gravações, já que Bangalter e Homem-Christo tiveram que entrar em estúdio para acompanhar as gravações de Nile Rodgers e Pharrell Williams, por exemplo – as participações especiais são os pontos altos de Random Access Memories. Todos os prós acabam encobrindo os contras, o que é mérito dos envolvidos. Enfim, com todo marketing envolvido no lançamento, o disco correspondeu à expectativa e mostrou que o Daft Punk pôde se reinventar e continuar incrível.

Tracklist:

1 - "Give Life Back to Music"
2 - "The Game of Love"
3 - "Giorgio by Moroder"
4 - "Within"
5 - "Instant Crush"
6 - "Lose Yourself to Dance"
7 - "Touch"
8 - "Get Lucky"
9 - "Beyond"
10 - "Motherboard"
11 - "Fragments of Time"
12 - "Doin' It Right
13 - "Contact"

Nota: 4/5

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