Cinemadas, por Júlia Mariano: Sobre Ben Affleck e Argo

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Como todos sabem, ontem tivemos a entrega das estatuetas do Globo de Ouro. A votação é feita pela Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood que escolhe os melhores do ano no cinema e na televisão. Entre algumas surpresas – como Quentin Tarantino ganhando na categoria Melhor Roteiro, por Django Livre – temos Ben Affleck vencendo Steven Spielberg, o grande favorito por Lincoln, nas categorias Melhor Diretor e Melhor Filme.

A grande surpresa não é Affleck ganhar nas duas categorias, mas é o fato de a Academia ter esquecido o diretor nas indicações ao Oscar. Mas apesar de todo ano termos alguma indicação bizarra dos votantes (como Avatar na categoria Melhor Fotografia em 2012), o problema desse ano, segundo a jornalista Ana Maria Bahiana, integrante da Associação de Imprensa Estrangeira, foi a mudança das tradicionais cédulas para um novo sistema online de votação. Ela fez um texto bem interessante sobre isso (quem estiver interessado, o texto está aqui).

Baseado em fatos reais, Argo se passa em 1979 e narra uma operação secreta criada para resgatar norte-americanos durante a tomada do poder no Irã pelos Aiatolás. Conhecido como a Crise de Reféns no Irã, estudantes e militares islâmicos invadiram a embaixada americana em Teerã, em apoio à Revolução Iraniana, e mantiveram 52 reféns entre 4 de novembro de 1979 e 20 de janeiro de 1981. Porém, seis funcionários conseguiram escapar, refugiando-se na casa do embaixador canadense.

Sabendo que era apenas uma questão de tempo para os seis serem encontrados e, provavelmente mortos, um agente infiltrado da CIA chamado Tony Mendez (Ben Affleck) surge com um plano para tirá-los do país com segurança: realizar um filme falso, disfarçando os agentes como uma equipe de produção procurando por locações para um filme de ficção-científica.

Affleck constrói com habilidade uma tensão desde o inicio do filme, mantendo apreensão e fazendo você se perguntar se a missão será bem sucedida. Focando nos personagens e não necessariamente na missão em si, Argo apresenta pessoas únicas e autênticas. Destaque para Alan Arkin e John Goodman, roteirista e produtor, respectivamente.

Apesar da tensão, o filme ganha leveza quando a câmera muda para as cenas em Hollywood. As cores mais quentes e o ambiente mais divertido contrastam bem com as cenas mais escuras e frias nos momentos de apreensão dos procurados. O diretor também aproveita para criticar a indústria cinematográfica, comparando os artifícios executados por governos e estúdios de cinema. Isso é visto claramente quando o filme põe em cena um paralelo, onde John e Lester (personagem de Arkin e Goodman) blefam com um profissional de Hollywood para financiar o projeto e, ao mesmo tempo, vemos Mendez usando identidades falsas.

Argo estava destinado a agradar o público e a crítica, uma pena a Academia tê-lo esquecido.

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