Herói por um dia

Por Fernanda Magliocco

Hoje é aniversário de Elvis Presley, gente! Grande nome da história da música, responsável pelo desmaio de milhares de garotas, conhecido por várias gerações e considerado pela maioria como o rei do rock. Um lindo. Mas não é dele que vim falar. E se você não é um apaixonado por música, é bem provável que você não tenha saco ou paciência pra terminar de ler esse texto, ou ache tudo um monte de babaquice e sentimentalismo barato.

Antes do sucesso, meu homenageado teve cerca de 10 bandas (Kon-rads, King Bees, Manish Boys, Lower Third e etc.), mas o anonimato do David Robert Jones desapareceu quando resolveu adotar outro sobrenome: Bowie. David Bowie usou esse nome em homenagem a James Bowie, um coronel morto na Batalha do Álamo, no estado do Texas (que pertencia ao México) em 1836 - de personalidade agressiva, virou herói da guerra e originou um dos nomes artísticos mais conhecidos atualmente.

Apesar da polêmica, irreverência, de ter declarado Hitler “como primeiro pop star", dos supostos relacionamentos abertos com homens e mulheres (entre eles um caso com Mick Jagger, que estava em sua fase mais delícia, e outro com Lou Reed), obsessão por sexo e drogas, e outras centenas de curiosidades que poderia citar, David Bowie marcou seu nome na história da música pela inquestionável qualidade musical (ok, eu poderia ter colocado "por ter feito músicas de outro planeta", mas é clichê demais).

Bowie era tímido, tinha aparência andrógina desde criancinha e temeu virar um One-hit wonder com "Space Oddity". Já sabemos que ele é estranho, usou roupas bizarras e possui um grande número de venda de discos - estima-se que foram 136 milhões de cópias.

Sou apaixonada por música e literatura e, além de ver Bowie como um artista completo, também o enxergo como excelente romancista. Sua facilidade em criar personagens nas canções é evidente. O querido Major Tom, que mesmo com todos os problemas com o foguete, teve uma vista privilegiada do planeta Terra e acredito que ele curtiu bem o momento; Ziggy Stardust, em "The Man Who Sold The World"; e, o meu predileto, o narrador de "Five Years", a música que descreve a reação das pessoas ao descobrirem que o mundo acaba em cinco anos.

Talvez ele quisesse mesmo acreditar em uma vida marciana e achava que ela poderia ser melhor (ou mais compatível) com a vida dele aqui no planeta Terra.

A verdade é que como a maioria dos gênios, a vida pessoal vira combustível para as criações e as pessoas ao seu redor estão diretamente ligadas às composições. Mas Bowie é o artista que chegou mais perto do sentido da frase "exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende”, de Schopenhauer.

Agora com 65 anos completos, longe da vida de cocaína e de astro do rock, seu último lançamento foi Reality em 2003 e segundo o biógrafo Marc Spitz (da revista Vanity Fair), David Bowie está aposentado. O que é lamentável para mim, claro, já que, provavelmente, só o verei cantando nos vídeos do YouTube.

Feliz aniversário pra essa coisa linda que mudou a minha relação com a música.

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