Crítica: Swans - The Beggar

Michael Gira carrega o Swans nas costas há mais de 40 anos, com álbuns cada vez mais experimentais e sempre indo além dos limites musicais impostos por ele mesmo no trabalho anterior. Desde o retorno do grupo, em 2010, ele vem de uma ótima sequência de trabalhos que só aumentaram o prestígio dele perante os críticos e, além de manter os fãs antigos, conquistou novos admiradores nesse processo.

Em "The Beggar, 16º disco de estúdio, ele expande ainda mais o próprio material em canções quase ritualísticas de proporções épicas ao longo de pouco mais de duas horas. E é difícil não se encantar - e eu diria, quase se enfeitiçar - com o trabalho de Gira na faixa inicial, chamada "The Parasite", um épico de quase oito minutos e meio.

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Ele não economiza em longas canções, digressões sonoras e um experimentalismo quase macabro em "Paradise Is Mine", mas diminui o ritmo na "pop", se é que podemos categorizá-la assim, "Los Angeles: City of Death", faixa mais curta do trabalho com quase três minutos e meio de duração, com um enorme potencial para aparecer em filmes de terror ou em cenas mais dramáticas de outros gêneros.

Gira fala sobre ele mesmo em "Michael Is Done" em uma canção crescente e de arranjo surpreendente para o tom inicial e coloca a melancólica em jogo na tocante "Unforming", quando se questiona sobre a própria mortalidade que, aos 69 anos, está mais perto do fim. E a inquietante e sombria "The Beggar" vem a pergunta: "quando aprenderei a viver?". Tudo se completa em "No More of This", quando ele questiona a existência de uma maneira muito suave e bonita, olhando o assunto com uma profundidade que poucos têm atualmente em uma das músicas mais bonitas do ano.

Se os pouco mais de 18 minutos da sequência formada por "Ebbing" e "Why Can't I Have What I Want Any Time That I Want?" exploram vícios, liberdade e a vida após a morte, os quase 44 minutos de "The Beggar Lover (Three)" colocam o tempo e os ouvidos à prova em uma paisagem sonora que passa como as estações do ano, uma enorme colagem de anos de trabalho que resultaram na terceira (!) maior gravação do grupo em um disco. É dessas que, para quem gosta de música experimental de altíssimo nível, vale cada minuto. E o disco encerra com a sombria de teor experimental "The Memorious".

Sem qualquer limite musical, Gira faz de "The Beggar" um trabalho complexo sobre si próprio, vida, morte, possibilidades, perdas e tudo mais que um ser humano passa ao longo da vida. Em canções de longo desenvolvimento sonoro, o lado experimental vence de goleada e ele só para de tocar quando der na telha, fazendo das canções um terreno fértil para testar o ouvinte. No fim, ele vence. E quem ouve também.

Tracklist:

1 - "The Parasite"
2 - "Paradise Is Mine"
3 - "Los Angeles: City of Death"
4 - "Michael Is Done"
5 - "Unforming"
6 - "The Beggar"
7 - "No More of This"
8 - "Ebbing"
9 - "Why Can't I Have What I Want Any Time That I Want?"
10 - "The Beggar Lover (Three)"
11 - "The Memorious"

Avaliação: ótimo

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