Considerada uma das revelações da música em 2019, a cantora Joanna Sternberg tinha tudo para fazer o ano seguinte como um momento de virada da carreira. Afinal, ela tinha um ótimo disco nas mãos, chamado "Then I Try Some More", e atenção da mídia especializada. Mas, como sabemos, veio a pandemia de COVID-19 e colocou tudo a perder pelos dois anos seguintes.
Com esse novo normal tomando conta e se assentando para ser chamado apenas de "normal", ela aproveitou o tempo livre dos shows e outros compromissos para escrever uma nova leva de músicas, transformadas em "I've Got Me", o segundo disco da carreira.
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Munida apenas de um violão e a produção do experiente Matt Sweeney, o trabalho começa com a faixa-título, um desabafo sobre um relacionamento que, por causa dela, anda aos tropeços. O lamento folk "I Will Be with You" tem na gaita e no piano o complemento ideal para a letra curta, emotiva e bem objetiva. E "People Are Toys to You" traz uma descrição perfeita das pessoas e como passar a impressão de fraqueza leva a ser usado pelos outros até não querer mais.
"Drifting on a Cloud" aborda o difícil período dos últimos anos e como tomar um remédio ("Now since I took this pill/ I can't even sit still/ I'll feel it right until") pode ser a solução para ter um recomeço, um caminho para tentar sorrir novamente, já a balada quase gospel "Mountains High" é o processo dessa mudança para não ser mais a pessoa de antes e lamenta os erros cometidos com um piano bem cru.
A balada romântica "I'll Make You Mine" alimenta o sonho de recuperar o amor perdido ("Wake up, wake up, wake up/ I've been dreaming forever of you/ Wake up, wake up, wake up/ There is nothing else I can do/ I'll make you mine/ I'll make you mine/ I'll make you mine") e "Stockholm Syndrome", só no violão, também apresenta de maneira muito direta o difícil relacionamento com alguém que só sabe abusar da outra pessoa e, mesmo assim, nada muda porque o (suposto) amor é maior.
O desespero de ver alguém indo embora é traduzido na profunda e triste letra de "Right Here", uma pedrada sonora que fará qualquer um com sentimentos chorar de soluçar e quer dar um novo amor a alguém em "The Love I Give", apesar do total desprezo e rejeição ("I give all my love to you/ Though my hearts been broke a thousand times in two/ And yes that should make me stop/ But in fact it's quite the opposite/ I will give and I will give my love to you/ I will give, I will give my love to you").
"She Dreams" pode até como uma letra positiva olhando apenas para o título, mas é um lamento sobre saber que a pessoa amada pensa em outra o tempo inteiro e machuca muito saber que isso nunca vai parar. E se "The Human Magnet Song", com a guitarra aparecendo pela primeira vez, apresenta o desejo de não entrar em nada novo, apesar da atração inevitável, o blues "The Song" encerra o álbum desejando apenas que a dor passe de alguma maneira.
Joanna Sternberg consegue encontrar palavras para traduzir as angústias das pessoas na faixa dos 30 a 40 anos. Desiludidos, sem esperança e sempre com medo, é a geração que será conhecida pelo futuro sombrio se alguma mudança não começar a acontecer em breve, visando algo melhor para nós. "I've Got Me" é simples, é lindo e honesto, tudo que a música deveria ser sempre.
Tracklist:
1 - "I've Got Me"
2 - "I Will Be with You"
3 - "People Are Toys to You"
4 - "Drifting on a Cloud"
5 - "Mountains High"
6 - "I'll Make You Mine"
7 - "Stockholm Syndrome"
8 - "Right Here"
9 - "The Love I Give"
10 - "She Dreams"
11 - "The Human Magnet Song"
12 - "The Song"
Avaliação: ótimo
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