Ao querer mudar parte da Virada, Doria admite primeiro fracasso na gestão

Crédito da foto: João Doria/ Facebook

Prefeito eleito deseja colocar os shows do evento no autódromo de Interlagos

João Doria nem assumiu e já mostrou como o poder público brasileiro adora resolver tudo na base da canetada. Ao afirmar que deseja transferir parte da estrutura da Virada Cultural para um único lugar, o prefeito eleito usa exatamente o mesmo expediente de seus antecessores em diversos outros assuntos. Porque isso é o resumo do Brasil: quem tem a caneta na mão decide pelos outros e ponto final. Não há debate, não há argumentação, não há escolha. Manda quem pode, obedece quem serve para dar voto.

Ele tem razão quando diz na piora da segurança do evento nos últimos anos. Algumas pessoas que conheço pararam de ir entre 0h e 6h pelo perigo de arrastões. Um fato que mancha o evento, certamente. Doria e qualquer um no cargo devem apresentar soluções para amenizar ou acabar com o problema que impede a participação de mais gente. Não dar uma canetada. É ridículo ter que falar isso, mas não deveria ser assim que qualquer prefeito deveria agir.

A Virada Cultural é boa por ter sido o pontapé inicial do redescobrimento da cidade a pé. Nessa loucura da vida de entrar e sair de algum transporte sem tempo para apreciar a cidade, a Virada é um boa e fundamental no calendário da cidade. Primeiro, por dar chance para muita gente ver os mais diversos tipos de atrações em um curto período. Segundo, dar ao povo a sensação de pertencimento a algo que é deles – só precisava de um empurrão.

Um amigo no Twitter lembrou da intenção de Doria de privatizar Interlagos até o fim do mandato. Poucos dias depois de eleito, ele anuncia que a parte de shows da Virada Cultural deve ir para lá. Mesmo dando um voto de confiança e não sendo leviano, é muito difícil não ligar os dois pontos. Essa possível transferência soa um evento teste para saber como será colocar o pessoal em uma espécie de cercadinho controlado.

O centro de São Paulo é um lugar cheio de história, mas, devemos admitir, é mal cuidado há anos. As melhoras pontuais de algumas gestões não diminuem o fato de esse ponto da cidade precisar de uma revitalização. Andar ali dá medo, não importa o horário. Não deveria ser assim. Doria se diz um não político que estará no cargo unicamente por gostar da cidade. Ótimo, maravilha. Então, ele deveria usar a Virada Cultural como ponto de partida para melhorar o centro. Revitalizar os prédios antigos, colocar mais segurança, cuidar dos mendigos e dos viciados em drogas dando a eles um tratamento decente, transformar a cara da cidade em algo bom para os turistas e prático para quem mora e anda por lá.

Ao anunciar de maneira unilateral, tanto que o futuro secretário de cultura ficou espantado ao saber da decisão, Doria já mostra que é um político de mão cheia. Porque em qualquer coisa que há ampla participação da população, é necessário um longo debate até afinar o discurso. Ao agir de supetão, Doria não só fracassa no diálogo com a sociedade, como mostra que terá a mesma tendência de seus antecessores: a de decidir tudo na canetada.

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