Livro: Minha Fama de Mau, de Erasmo Carlos (2009)


Registro das memórias do cantor desaponta ao não se aprofundar em temas delicados

Biografias escritas por grandes nomes da música brasileira são raras, por isso, a atitude de Erasmo Carlos de lançar uma não deixou de ser surpreendente. Minha Fama de Mau (360 págs, Ed. Objetiva, R$ 30 em média) traz algumas histórias do cantor ao longo de seus anos de vida pessoal e profissional, mas falha em não mostrar mais do que causos bobinhos e, em certos momentos, infantis.

A história de Erasmo Esteves é muito boa, principalmente por ele ter conhecido intimamente figuras do calibre de Tim Maia (amigo de infância), Carlos Imperial (foi secretário durante algum tempo) e Roberto Carlos (amigo de longa data), isso para ficar nos mais conhecidos. Mas é aí que mora o problema: grande parte das histórias parece ter sido escolhida para formar um livro de anedotas dos tempos de juventude e uma ou outra coisa que aconteceu de ruim em determinados períodos de sua vida.

O cantor só de desarma quando fala de Narinha, mulher casada com ele por mais de uma década, que tirou sua própria vida em 1994. Ao falar disso, usando todo sentimento possível, pudemos ver que nem tudo na vida dele foi flores, mesmo isso só vindo à tona na parte final. Na maioria das vezes, o livro dá a entender que ele teve uma vida cheia de momentos engraçados e que foi sacaneado e sacaneou os amigos para fazer uma boa piada. É tudo tão inocente e simplório que fica sem graça quando se avança.

A divisão dos capitulos em causos não chega a atrapalhar o andamento da leitura - é um recurso muito utilizado para não transformar o capítulo em em algo muito longo. Ao contrário, até ajuda a parar quando há cansaço.

Fiquei bastante desapontado com o resultado final, porque Erasmo Carlos merecia um registro melhor sobre sua carreira. Talvez ele não saiba, mas os fracassos do homem enobrecem o artista. A fama pode ser de mau, mas essa autobiografia é tão inocente quanto uma criança de cinco anos vendo desenho.

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