Nem Noé seria capaz de salvar o Mastodon no Anhembi

Foto: Mastodon/Facebook

Por Giovanni Cabral

"Ferver a água onde a hidra rasteja/os justos vão em fúria ardente/e nós limpamos a terra para derrubá-la. E Deus irá vê-la queimar...". Com estes versos, o Mastodon terminaria a sua curta apresentação na Arena Anhembi. "Aqua Dementia" definitivamente fez jus ao seu título da pior forma possível.

Após aguardar intermináveis duas horas – pingando suor no calor de 34º - na longa fila para adentrar ao local do show, os portões se abriram às 16h para massa humana trocar os seus caros ingressos pela oportunidade de ver a sua banda amada de perto. E claro, como era de se esperar, mais de 90% estavam lá exclusivamente para ver o Slipknot.

Seja na pista comum ou na premium, poucos foram os que saíram antes do início dos shows para gastar em bebidas ou merchandising. A maioria estava a fim de marcar território o mais próximo possível da grade e não arredar o pé dali – mesmo aqueles que não se interessavam pelo Mastodon. E foi nesse clima de bagunça e de mais pessoas suando coladas na plateia que o quarteto de Atlanta subiu ao palco às 19h, emendando uma música atrás da outra sem pausa. "Tread Lightly" abriu o set com a banda mostrando todas as suas armas, um perfeito cartão de visitas aos desavisados.

Em seguida, "Once More 'Round the Sun" serviu para comprovar que as músicas do disco de mesmo nome ganhavam um absurdo peso ao vivo, e que Troy Sanders era um frontman nato. Já a ótima "Blasteroid" veio acompanhada dos primeiros pingos de chuva, até então refrescantes e bem-vindos, animando a plateia a começar a pular.

"The Motherload", que evidenciou a voz do ótimo baterista Brann Dailor, teve seu refrão berrado no Anhembi graças a sua melodia marcante. "Chimes at Midnight", com suas intensas quebras de andamento, e "High Road" – com seus riffs sujos – empolgavam enquanto a chuva ameaçava engrossar. Único som de Leviathan até então, "Aqua Dementia" foi bem recebida pelo público e pelos céus, já que caia uma quantidade de água muito grande. Isso obrigou a banda a parar o show por aí, e os equipamentos foram recolhidos da beirada do palco. Era visível o descontentamento do guitarrista Brent Hinds.

Em um post no Facebook, o Mastodon divulgou que a apresentação precisou ser terminada para evitar qualquer problema na parte elétrica. O show de menos de meia hora foi realmente bom enquanto durou, mas espero que eles retornem ao país o mais rápido possível para que paguem essa 'dívida' com os fãs... E que seja solo e em um local fechado.

Curiosamente, cinco minutos após o Mastodon sair do palco, a chuva cessou e não deu o ar da graça até o final da noite. A produção do evento montou rapidamente o resto da estrutura de palco do Slipknot – bateria, percussões e cenário estavam prontos e só tiveram que ser destampados.

Impossível dizer que a apresentação do Slipknot não foi um verdadeiro espetáculo. Não sou um dos maiores fãs da banda, mas sabia exatamente que, ao vivo, o negócio é megalomaníaco. Fez parte deste pacote um cenário com dois andares – o segundo contava com a figura de um demônio, como um grande boneco carnavalesco, que jorrava luzes de sua boca –, além de incríveis labaredas que saiam de todo o canto. Esse show visual todo foi ainda maior com os dois percussionistas que eram içados em plataformas que rodavam e subiam de uma maneira fascinante.

Sonoramente eles eram gigantes também. Canções do novo álbum, .5: The Gray Chapter, "The Devil in I" e "Custer", foram muito bem recebidas por um dos públicos mais fanáticos que já vi de perto. Corey Taylor, aliás, sabia como tê-los na mão, seja beijando uma bandeira do Brasil ou pedindo palmas aos colegas do Mastodon. Uma sequência delirante com hits como "Psychosocial", "Vermilion", "Before I Forget" e "Spit It Out" levaram o público ao delírio, gritando e pulando sem parar, fazendo com que a uma hora e meia de show parecesse pequena.

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