Quando a história de Tim Maia vira um Frankenstein

Crédito da imagem: Divulgação/TV Globo

Lançada nos últimos meses de 2014, a cinebiografia de Tim Maia levou menos de 800 mil espectadores aos cinemas brasileiros. É um resultado bem ruim, mas o docudrama exibido pela Globo na primeira semana de 2015 conseguiu uma boa audiência, mostrando que o público gosta de boas histórias, do formato usado e do personagem em si.

Ainda não tive a chance de ver o filme, mas está claro que esse monstrengo exibido pela emissora causou mais problemas do que acertos. Mas antes de qualquer coisa, o programa fez uma justiça: apresentou Elis Regina como a pessoa que ajudou Tim no início de carreira ao chamá-lo para gravar These Are The Songs, em 1969, um ano antes da estreia solo dele como cantor.

Os problemas são vários, mas o foco está na opção por contornar a verdade e optar por versões próprias das histórias. Queria muito saber qual o problema de Roberto Carlos admitir que não foi uma boa pessoa nos primeiros anos de carreira? Que era mesquinho e se deixou iludir pela fama e dinheiro aos montes, coisas que ele nunca havia tido na vida? Fazer isso, nessa altura de carreira, mostraria que ele não é esse cara mesquinho que aparenta ser a cada dia que passa. Mas não. Optaram por protegê-lo mais uma vez. Como se ele precisasse.

O docudrama não ficou nada bom da maneira como foi feito. Primeiro, é sem ritmo. Passa da ficção para depoimentos para Tim cantando e volta para ficção. Ficou cansativo depois de terceira vez que isso acontece. Segundo, a opção por remendar o filme ficou aquém do esperado. Quando esse tipo de recurso é usado, geralmente é para consertar algum erro ou reparar alguma injustiça. E até que isso foi feito, mas em Tim Maia – Vale o Que Vier serviu apenas para passar um pano no filme – que mostrou o sucesso dos amigos, enquanto Tim pedia ajuda e passava sufoco financeiro. Não que eles tivessem obrigação de ajudar, mas não precisavam humilhar o cara.

Muitas vezes nas cinebiografias e docudramas feitos no Brasil, opta-se por tratar o personagem por seu estereótipo ao invés da verdade. Como o objeto da peça não está vivo para contar sua história, o máximo que se pode fazer é se aproximar dos feitos dele através de muita pesquisa e entrevistas. Ao tratar Tim Maia pelo lado do folclore – ser gordo, mulato, mal educado, sincero e com um talento acima da média – deixa-se de contar a verdade, ou algo perto dela, o que realmente importa nesse tipo de trabalho.

Como disse antes, não vi o filme para aprofundar nas comparações entre um e outro. Apesar disso, ficou claro que esse Frankenstein que virou esse especial da Globo não cheia aos pés do que foi Tim Maia.

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