Meus discos de 2014, por Gabriel Carvalho



Antes de qualquer coisa, agradeço imensamente ao amigo Fagner Morais por ceder este espaço para eu publicar a minha lista de dez discos lançados em 2014. Que não terá ordem de preferência – se eu tivesse escolhido esse caminho, estaria em uma batalha interna até agora para definir em que posição ficaria cada disco. 

Eu tentei não me prender a nenhum gênero na hora de montar a lista. Meu único critério foi escolher discos que conquistassem a minha atenção do início ao fim – em maior ou menor escala, como vocês poderão perceber a seguir – sem que eu pulasse uma faixa sequer. Eis, portanto, a lista:


Tony Allen – Film of Life

Tudo começa com este disco por um simples motivo: eu simplesmente não fazia a mínima ideia de quem era Tony Allen até me deparar com a maravilha que é Film of Life. Erro grave à parte, vamos ao disco em si. O álbum tem um grande momento, que começa na excelente "Boat Journey" e termina em "Tony Wood" – sim, da primeira à última faixa. Tudo em Film of Life tem uma razão de ser, nada está ali em excesso. Um disco para ser apreciado com toda a atenção que ele merece e para ser ouvido sem moderação.


David Crosby – CROZ

David Crosby demorou 20 anos para lançar um novo registro, mas quando lançou nos presenteou com esta pérola que é CROZ. Tudo começa com a participação luxuosa de Mark Knopfler em "What’s Broken", que abre o disco. O que se segue é uma sucessão de canções muito bem trabalhadas e vocais primorosos, com destaque para a belíssima "Holding On To Nothing", "Radio, Slice of Time" (outra bela composição) e "Find a Heart", que tem um trabalho instrumental de primeira e fecha o álbum com chave de ouro. 


Incognito – Amplified Soul

O Incognito é uma das bandas mais importantes do Acid Jazz britânico e completou 35 anos de estrada em 2014. Amplified Soul traz todos os elementos que consagraram a turma liderada pelo guitarrista Jean Paul “Bluey” Maunick: muito groove, belíssimas vozes – Tony Momrelle, Vanessa Haynes e Imaani, parceiros de longa data, empregam seus dotes vocais no disco, além de outros cantores – naipe de metais bem colocados e linhas de baixo, a cargo de Richard Bull e Francis Hylton, marcantes. Há a participação especial de Nick Van Gelder, baterista da formação original do Jamiroquai, em duas faixas. O disco todo é muito bom, com destaque para canções como "Hands Up If You Wanna Be Loved", a dançante "Hats (Makes Me Wanna Holler)", "Deeper Still", "Something ‘Bout July" e a instrumental "Wind Sorceress". 


Rich Robinson – The Ceaseless Sight

O mais novo dos irmãos Robinson caprichou no terceiro disco solo. Guitarrista de mão cheia que é, Rich Robinson exibe a habilidade no instrumento durante as canções de The Ceaseless Sight, como nos belos solos em "In You" e "Trial And Faith". As composições também são um ponto forte do disco: "One Road Hill", "The Giving Key" e "I Remember" (que poderiam figurar facilmente em um dos discos do Black Crowes), "In Comes The Night" e "I Have a Feeling" são ótimos exemplos da capacidade de Rich Robinson enquanto compositor. Ele pode não ter a mesma potência vocal do irmão, mas faz um ótimo trabalho, no todo, neste disco, que vale cada minuto da audição.


Snarky Puppy – We Like It Here

Este coletivo (sim, pois este grupo tem muitos, mas muitos membros) de música instrumental sediado em New York já tem dez anos de carreira e conseguiu expandir os horizontes, basicamente, através do Facebook e do You Tube. We Like It Here, oitavo disco da banda comandada pelo baixista Michael League, traz estilos variados, com influências do jazz, fusion, R&B e ritmos brasileiros – "Tio Macaco" foi inspirada na sobrinha de League, que é brasileira. Os músicos estão cada vez mais afiados em seus instrumentos – o solo do tecladista Cory Henry em "Lingus" e o do baterista Larnell Lewis em "What About Me?" são de cair o queixo, só para citar dois exemplos. Se estas linhas não chamaram a sua atenção, vá ao You Tube e confira os vídeos das músicas, que foram gravadas ao vivo em um estúdio com plateia, sem overdubs.


Pink Floyd – The Endless River

Se este é o ultimo disco do Pink Floyd, a discografia da banda tem um final muito mais do que digno. The Endless River também pode ser encarado como uma homenagem a Richard Wright, já que o conteúdo consiste, basicamente, em passagens instrumentais do tecladista que ganharam a bateria de Nick Mason e as belíssimas guitarras de David Gilmour. "It’s What We Do" e "On Noodle Street" são sensacionais. "Louder Than Words" é espetacular – alguém sentiu que a canção fala sobre tudo que o Pink Floyd ‘completo’ fez enquanto banda ou fui eu quem viajou demais?


Chris Robinson Brotherhood – Phosphorescent Harvest

O frontman do Black Crowes e mais velho dos irmãos Robinson resolveu seguir por uma veia de longas jams, cercadas por um clima hippie/psicodélico, em sua Chris Robinson Brotherhood. Isso fica ainda mais evidente em Phosphorescent Harvest, terceiro disco da banda. Quem dá as cartas com muito destaque aqui é Adam MacDougall, companheiro de Black Crowes e que seguiu com Chris Robinson nesta empreitada. Na animada "Shore Power", faixa de abertura, já é possível perceber a forte presença dos teclados. E isso continua no resto do álbum, com faixas mais tranquilas como "About a Stranger", "Wanderer’s Lament" e "Tornado. Burn Slow", faixa que encerra o disco, conta com solos inspirados de MacDougall e do guitarrista Neal Casal. Phosphorescent Harvest é o companheiro ideal para você pegar a estrada e viajar com tranquildade, sem pressa para chegar ao seu destino.


Joe Bonamassa -  Different Shades of Blue

Bonamassa, reconhecido como um dos grandes guitarristas da atualidade, sempre gravou discos recheados de covers de artistas que ele sempre admirou. Em Different Shades of Blue, ele mostra de vez seu lado compositor em dez faixas – com uma regravação apenas na música que abre os trabalhos: "Hey Baby (New Rising Sun)", de Jimi Hendrix. Depois, uma sucessão de riffs poderosos e solos carregados de feeling e técnica. Bonamassa passeia com propriedade pelo blues e pelo rock, com músicas mais aceleradas ou baladas, mas sempre deixando sua marca. Atenção especial para "Living on the Moon", "I Gave Up Everything For You", ‘Cept the Blues" e para a faixa-título. Com os ingredientes mencionados acima e ótimos músicos de apoio, o resultado não poderia ser outro: é um dos melhores registros da carreira de Bonamassa, sem dúvida.


Mastodon – Once More ‘Round The Sun

Só por "The Motherload" este disco já entraria na lista. Mas Once More ‘Round The Sun é muito mais do que isso. Assim como seu antecessor, The Hunter, este não é um disco conceitual e tem músicas mais diretas se comparadas aos discos anteriores. Ainda assim, você vai encontrar as quebras e mudanças de ritmo características do som desta banda fantástica. Brann Dailor continua provando que é um exímio baterista e faz bico de vocalista quando necessário. Troy Sanders continua dando seus berros e mandando ver no baixo, do mesmo modo que Brent Hinds faz com a guitarra. "High Road", com seu riff marcante, "Chimes at Midnight", "Once More ‘Round The Sun" e "Diamond In The Witch House" – de clima sombrio e com a já tradicional participação de Scott Kelly, do Neurosis – são os destaques deste disco do Mastodon, que cada vez mais se firma como um dos grandes nomes da música pesada na atualidade.


Jack White – Lazaretto 

São ‘apenas’ 39 minutos de audição. Parece pouco, mas o que Jack White nos entrega é música de primeira, do início ao fim. Flertando com o rap, com as caipirices norte-americanas, com o pop e até trazendo alguns elementos que lembram o trabalho do White Stripes, Jack White não deixa de ser e soar como Jack White em nenhum momento de Lazaretto. "Three Women" é ‘pé na porta’, "Just One Drink" tem um climão de bebedeira, "Entitlement" e "Want and Able" poderiam ter sido lançadas nos anos 60 e ninguém se assustaria. Passeando entre o clássico e o moderno sem soar cafona ou forçado, Jack White conseguiu fazer um disco ainda melhor que Blunderbuss, a estreia como artista solo. Assim você nos deixa mal acostumados, Jack.


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