O problema do U2 não está só na chatice do Bono


O U2 tornou-se a maior banda dos anos 1980 com muito esforço e trabalho duro de todos os membros durante boa parte da década anterior. E eles escolheram falar de si próprios e da Irlanda nas letras, algo que seria revelador e, ao mesmo tempo, mostraria a face preocupada em mostrar ao mundo que existiram problemas e situações que moldaram o caráter, mas ainda dificultam algumas relações em sua terra natal.

Musicalmente, eles cresceram absurdamente disco após disco, e não foi de graça que o grupo fez cinco álbuns ótimos entre 1983 e 1991, período mais do que suficiente para consolidar o som, a atitude, a militância e mostrar ao mundo que é possível crescer fazendo a diferença não só para quem ouve as músicas, mas para quem não é fã.

O grande problema do U2 foi não ter mantido essa consistência em sua discografia, algo que é muito sentido atualmente. Se os anos 1980 foram ótimos em termos criativos e comerciais, os anos seguintes não se mostrariam tão frutíferos. O início dos anos 1990 veio com o ótimo Achtung Baby, mas foi completado com o controverso Zooropa e o péssimo Pop, que jogaram a credibilidade da banda ao chão em uma velocidade incrível.

Depois disso, Bono começou a se destacar mais por suas causas humanitárias do que pela música. Não que isso seja ruim, mas ele não seria quem ele é e não teria toda essa fama sem ter apostado em seu talento como vocalista e compositor, e de ter transformado o U2 em uma das maiores bandas ao vivo da história do rock de estádios.

Outro ponto que eles enfrentaram foi o fato de não terem se reencontrado musicalmente depois do sucesso de cinco discos seguidos. Aconteceram tentativas de volta ao som que os consagrou, mas apenas All That You Can't Leave Behind convence – esse disco completa 14 anos neste ano. Parece que as duas falhas consecutivas os desorientaram o suficiente para não conseguir fazer muita coisa significativa nos últimos anos.

Existem dois exemplos que o U2 pode tomar para definir o que deseja para si nos próximos anos: Motörhead e Paul McCartney. O primeiro não mudou em absolutamente nada seu som desde os primórdios, não chegando ao grande público. Porém a banda liderada por Lemmy Kilmister tem um séquito de seguidores ávidos por ouvir mais do mesmo todo show e todo disco, e não se importando se é o mesmo tipo de música há 40 anos.

Já o exemplo do ex-beatle é diferente. McCartney atualiza seu catálogo sem parecer aquela tia velha que acabou de entrar o Facebook – entrelinhas, sem parecer perdido. Em seu último disco, chamado New, ele optou por trabalhar com quatro produtores diferentes, cada um com sua experiência com cantores e grupos que fizeram sucesso nos últimos anos. O resultado mostra, basicamente, um resumo da carreira de Paul, mas com um frescor absurdo. Tem de tudo, desde baladas românticas até canções que usam artifícios atuais sem parecer forçado.

2014 entra como ano em que o U2 entra naquela onda de virar de vez uma banda clássica. Talvez eles precisem definir de uma vez o que desejam para essa reta final de carreira: ousar mais sem parecer ultrapassado ou amarrar o burro na sombra fazendo mais do mesmo até a aposentadoria chegar. Por isso, existe uma pressão absurda pelo próximo trabalho do grupo irlandês. É esperar para ver.

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