Resenha: Bruce Springesteen – High Hopes


Bruce Springsteen foi o grande músico de 2013, sem dúvida alguma. Uma turnê que passou por vários países, incluindo duas apresentações no Brasil, e que chegou ao fim em um show épico no Rock in Rio. Também no último ano o cantor teve uma biografia lançada por aqui, única em que ele ajudou o biógrafo com alguns bons relatos sobre sua vida dentro e fora da estrada.

Aproveitando esse sucesso todo entre o público de todas as idades, desde aqueles que se encantaram com ele em Born in the USA até Wrecking Ball, então trabalho mais recente de Bruce – eleito pelo blog como MelhorDisco de 2012. Entre todos esses anos, Springsteen gravou algumas músicas e, por não achá-las boas o suficiente, acabou não lançando em nenhum de seus últimos álbuns. Pois o momento chegou, e High Hopes é curioso: um disco de sobras de estúdio e covers decanções que ele sempre quis gravar.

A animada e empolgante canção-título abre o 18º álbum de estúdio, um cover de Tim Scott, conhecido como o ‘Rei do Blues Gótico’. Aqui a E Street Band já mostra todo seu talento na seção rítmica ao dar a faixa um tom de jazz-folk. É uma canção muito boa em estúdio e tem tudo para ser uma das melhores nos shows. Na sequência temos “Harry’s Place”, e aqui fica mais visível a participação de Tom Morello, do Rage Against The Machine, com sua característica guitarra.

“American Skin (41 Shots)” foi escrita logo após o assassinato de Amadou Bailo Diallo pela polícia nova-iorquina. É incrível como Springsteen consegue ter essa sensibilidade para tratar de assuntos cotidianos em uma canção muito linda e tocante. Executada algumas vezes ao vivo, é a primeira vez que ela é incluída em um álbum de inéditas. Apesar dos pontos favoráveis, ela emula momentos das apresentações, deixando a faixa desnecessariamente longa. Depois da calmaria, vem o momento mais para cima com “Just Like Fire Would”, cover da banda The Saints.

Entre os anos 1990 e início dos anos 2000, Bruce não fez discos acima da média. E como todo grande músico e compositor também não consegue ser 100% genial o tempo inteiro, e “Down in the Hole” mostra isso. Pode até ter uma letra boa, mas bem comum para o padrão estabelecido por ele mesmo – a cozinha rítmica compensa um pouco, mas não o suficiente. Já “Heaven's Wall” coloca na mesa uma mistura entre o blues-rock e ritmos africanos, enquanto “Frankie Fell in Love” mostra o lado romântico do cantor.

Cheia de metáforas na letra e referências ao folk no andamento, “This is You Sword” é outra faixa que deve soar melhor ao vivo do que em estúdio. Na mesma linha temos “Hunter of Invisible Game”, que conta com um belo arranjo. A décima faixa, chamada “The Ghost of Tom Joad”, Bruce divide os vocais com Morello na regravação da canção-título de um disco de mesmo nome lançado em 1995 – ela também foi gravada pelo Rage Against The Machine, banda de Tom Morello.  Assim como “American Skin (41 Shots)”, a canção ultrapassa os sete minutos.

Penúltima, “The Wall” foi escrita depois da visita de Springsteen ao Vietinam Memorial, em Washington, e inspirada na história de Walter Cichon, músico que foi à guerra e nunca mais voltou. "Dream Baby Dream", cover da banda Suicide, encerra a audição muito melhor do que a segunda metade dá a entender.

High Hopes nada mais é que um trabalho ao vivo feito em estúdio (um bootleg oficial), e isso é visível na ordem das canções, que seguem exatamente quase todo protocolo da última turnê de Bruce Springsteen. Se a primeira metade é excelente, a queda de qualidade na segunda parte é notória – o que não deixa de ser uma pena. Não é ruim, mas está muito abaixo da atual reafirmação dele no atual cenário da música.

Tracklist:

1 - "High Hopes"
2 - "Harry’s Place"
3 - "American Skin (41 Shots)"
4 - "Just Like Fire Would"
5 - "Down In The Hole"
6 - "Heaven’s Wall"
7 - "Frankie Fell In Love"
8 - "This Is Your Sword"
9 - "Hunter Of Invisible Game"
10 - "The Ghost of Tom Joad"
11 - "The Wall"
12 - "Dream Baby Dream"

Comentários