Ringo Starr e seu lugar na história


Ringo não tocava guitarra, tampouco era o baixista dos Beatles. Ele era apenas o baterista, e isso gera piadas até hoje – como o fato de Paul McCartney ser o cérebro da banda, John Lennon o coração, George Harrison a alma e Starr... o baterista. Esse tipo de coisa pode até ser engraçado, mas gera aquele senso comum ao falar dele, prejudicando qualquer análise do que ele fez e da importância dele naquele cenário musical.

Nascido em 7 de julho de 1940, Richard Starkey foi um morador de um bairro pobre de Liverpool durante boa parte da infância. Na adolescência surgiu o interesse pelo skiflle, ritmo que dominou a Inglaterra nos anos 1950 por motivos desconhecidos – talvez pela facilidade em ter uma banda nesse estilo, já que não era necessário ter grande experiência como músico.

Tentou ser guitarrista, mas não deu muito certo. Aos 17 anos, Starr ganhou seu primeiro kit de bateria – canhoto, teve que adaptar-se a tocar como destro, e dizem que era isso que diferenciava seu som dos outros. No início dos anos 1960, ele fazia parte do Hurricanes, banda mais popular da região.

Sem banda desde o início de 1962, Ringo foi convidado por Lennon a entrar nos Beatles em agosto, pois era considerado o melhor baterista de Liverpool, e primeiro show dele com a banda foi um completo desastre. Indignados com a troca, os fãs vaiaram e gritaram contra o novo membro, ao mesmo tempo em que exaltavam o demitido Pete Best – muitas vezes, McCartney teve que tocar bateria, já que Best estava bêbado e sem condição alguma, e isso, além da opção técnica, foi um dos motivos para demiti-lo.

Starr acabou tornando-se uma figura ímpar dentro da banda. Engraçado e sem os exigidos predicados da beleza para se dar bem, ele acabou sendo a válvula de escape dos Beatles em alguns momentos. Por exemplo, ele protagonizou todos os filmes da banda. Musicalmente, ele acrescentou muito ao grupo. A sonoridade, o jeito diferente de tocar, de cantar e de trabalhar ajudaram muito a complementar a forma de trabalho. Se McCartney era o cérebro da banda, John Lennon o coração, George Harrison a alma, Ringo era o deboche, a ironia e o senso de humor apurado. Por ser algo constante de piadas, o baterista não tem muito apelo como os outros três. Só quem quis se aprofundar o suficiente na história dele e do Fab Four sabe que ele salvou varias vezes a banda do fim muito antes de isso acontecer.

Falando da carreira solo, Ringo Starr tem músicas belíssimas, como “Photograph”, “It Don’t Come Easy”, “Back Off Boogaloo”, “The Greatest” e “Beaucoups of Blues” são algumas. Fora que o show da All His Starr Band é muito divertido e animado. Se Paul ganha rios de dinheiro cantando músicas dos Beatles, Ringo também pode. E nem falei dos últimos discos – Liverpool 8 e Y Not são excelentes e estão entre os melhores lançados por ele.

Espero que o senso comum que caiu injustamente nos ombros dele, e que muito apresentador e crítico musical faz questão de corroborar, acabe um dia.  Que Richard Starkey seja reconhecido como grande músico e como parte importante da geração que abriu muitas portas. Que livros sejam escritos e contem a história dele de maneira que seja tão lembrado como seus antigos companheiros. Ele merece.



Veja também:
Vídeo: George Harrison and Ringo Starr no Aspel & Company (1988)
Discos para história: With the Beatles, dos Beatles (1963)
O fenômeno Beatles
Recorde quebrado
1962, o ano que mudou muitas vidas

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