Resenha: Yeah Yeah Yeahs – Mosquito

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O Yeah Yeah Yeahs é dessas bandas do período pré-indie, por assim dizer. Do início dos anos 2000, o trio formado por Karen O, Nick Zinner e Brian Chase fez muito sucesso em 2003 com Fever To Fell, primeiro trabalho em estúdio. Premiado aos montes, o disco tirou a banda do underground e colocou o trio entre as boas revelações do início do novo milênio.

Depois veio o importante e crucial teste do segundo disco, e a banda passou com sobras com Show Your Bones, um dos grandes álbuns de 2007 e outro facilmente incluso em listas de melhores discos daquele ano – e da década, por que não? O terceiro álbum, It's Blitz!, flerta mais com os grandes momentos da new wave e coloca toques eletrônicos na composição do trabalho mais experimental, mas muito bom, de um grupo que vem crescendo sem abandonar a sonoridade, mas, tampouco, deixando de testar coisas novas.

Consolidada como grande banda dos últimos anos, o YYYs entrou em estúdio neste ano e lançou Mosquito. Quem participou da produção foi o Midas dos indies: James Murphy, ex-LCD Soundsystem que, atualmente, trabalha na pós-produção do novo álbum do Arcade Fire.

Pois bem, Mosquito começa com “Sacrilege”, que lembra um pouco o que foi feito em It's Blitz!, mas com um tom mais gospel – com coros e saindo da linha do que a banda apresentou em sua história. A canção ganha uma parte final épica e encerra de forma interessante.

Em “Subway” temos uma história, barulhos de estação de metrô e, especialmente aqui, a voz de Karen O, mais do que qualquer coisa, ajuda a criar um clima. É uma letra muito bonita e toca em um tema do cotidiano, além de ter uma melodia bem suave. Mudando completamente de ritmo na próxima faixa, “Mosquito” é agitada e uma espécie de ode ao mosquito. Nos festivais em que a banda participou, a canção funcionou muito bem ao vivo – e só, também. É divertida, mas não passa disso.

Em “Under The Earth” temos outra mudança. Aqui a banda trabalha mais a mistura entre ritmos africanos e sintetizadores, algo bastante comum em alguns discos lançados neste ano. Há um imenso destaque para uma linha de baixo bem ritmada para uma letra curta e que soa como um intenso pedido.

A sexta música, “Slave”, é a primeira em que a guitarra aparece mais forte, e a canção é recheada com um riff grudento para uma música fraca. Já em “These Paths”, o YYYs brinca com o experimentalismo e até um pouco de psicodelia com a batida sempre no mesmo ritmo. Outra canção que deve funcionar muito bem ao vivo é “Area 52”. Barulhenta, ela deve contar com todo agito da vocalista para torná-la algo único na apresentação.

A parte final de Mosquito conta com a participação especial de Dr. Octagon, o alter ego do rapper Kool Keith, em “Buried Alive”, uma faixa obscura e com tons de dramaticidade de dar inveja a qualquer autor brasileiro. Avançando um pouco mais, “Always” tem cara de mantra religioso – pela batida, parece mais algo pendente aos ritmos africanos mais uma vez.

Perto do encerramento, vem a melhor música de todo álbum: “Despair”. O início já chama a atenção, pois a banda ousa ao começar de maneira diferente para, então, a voz carregar os instrumentos em uma evolução até que tudo explode. Mas a passagem é feita de maneira tão suave, que a faixa vira uma explosão da segunda metade em diante. A canção já está entre as melhores que o Yeah Yeah Yeahs já fez. Por incrível que possa parecer, Mosquito é finalizado com uma balada no piano chamada “Wedding Song”, e ela é surpreendentemente boa.

Ter uma vocalista como Karen O ajuda qualquer banda. Ela é carismática, versátil e intensa no palco, e ela mostra essa vitalidade nos trabalhos em estúdio. Karen consegue se destacar nos piores momentos do trabalho, ao mesmo tempo em que mostra todo seu valor nos pontos altos. Além disso, o YYYs também tem músicos espetaculares que dominam bem os instrumentos.

Mosquito pode soar como um trabalho irregular, já que as canções não tem muita unidade umas com as outras, e a há poucas que estão dentro do tema proposto. Mas a análise, talvez, não deva ser feita em cima das canções ou da proposta, mas da mudança de sonoridade da banda. Está claro que os Yeah Yeah Yeahs estão ficando mais maduros como músicos e estão buscando novos ritmos e experimentando mais. Também está claro que as referências da banda mudaram nos últimos anos – batidas, eletrônico, new wave e é impossível não lembrar de grupos como Joy Division e da nova fase do Nine Inch Nails.

Enfim, Mosquito não é o melhor disco do grupo, mas ele aponta para um caminho interessante para os próximos álbuns.

Tracklist:

1 – “Sacrilege”
2 – “Subway”
3 – “Mosquito”
4 – “Under the Earth”
5 – “Slave”
6 – “These Paths”
7 – “Area 52”
8 – “Buried Alive”
9 – “Always”
10 – “Despair”
11 – “Wedding Song”

Nota: 3,5/5

http://youtu.be/PCzgftmUSXo

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