Resenha: The Flaming Lips – The Terror

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Depois do sucesso razoável no início dos anos 1990, o Flaming Lips, liderado por Wayne Coyne, optou por trabalhar mais seu lado experimental e deixou para quem quer chegar ao topo ficar com a missão de fazer canções pop. Desde o início do novo século, a banda vem fazendo outros tipos de composições e brincando mais com sons e temas.

Em The Terror, o 13º trabalho de estúdio, a banda deu forma a um projeto que é pouco visto: o álbum como uma narrativa, com início, meio e fim, e não apenas uma coleção de canções dentro de um tema – Dark Side of the Moon é o melhor exemplo desse estilo.

Cheia de camadas, barulhos e uma voz que parece sair das sombras, "Look...The Sun Is Rising" abre com um aviso: “Love is always something/Something you should fear”. É uma clara mensagem que, apesar de assustar no início, fala sobre amor e como é bom te alguém para dividir o maior de todos os sentimentos.

O menos atento pode achar que a primeira canção não terminou, mas, colada na abertura, temos “Be Free, A Way”, uma canção com uma temática hippie – com temas como pôr do sol, amor e liberdade. Com uma sonoridade pesada e difícil de pegar no primeiro momento, ela consegue encaixar perfeitamente na proposta. O encerramento, com mais de um minuto, é feito no piano e é muito bonito e incomum.

A tacada seguinte é “Try to Explain”, que começa com um efeito na voz de Coyne dizendo “I believe in you/ I believe you/I believe”, e na letra dessa faixa temos o primeiro questionamento sobre mudanças. O coro emociona e espalha melancolia pelo ar. A quarta música do disco é um épico de mais de 13 minutos. Com a participação do produtor Phantogram, “You Lust” também tem muitas camadas e uma estrutura baseada do melhor do período pós-psicodélico, e é uma surpresa que a música não se perca nela mesma – ao contrário, é muito bem amarrada e funciona perfeitamente bem em toda sua duração.

A música título não deixa dúvidas de que a escuridão é o tema principal e que há um rompimento com a primeira parte do álbum, quando o amor é exaltado. Em uma quase ópera, “You Are Alone” traz a voz distorcida e sons que dão um pouco de medo, o que serve para completar a transição entre os temas. Em “Butterfly, How Long Does It Take to Die”, o Flaming Lips exagerou um pouco na mão na duração – com mais de sete minutos, é a segunda maior do disco.

“Turning Violent” traz uma espécie de mantra no início e vai evoluindo, mas é uma canção estranha e difícil de entender. Encerrando o trabalho de apenas nove faixas, “Always There… In Our Hearts” é uma bela canção sobre as coisas que afligem os corações das pessoas.

The Terror não foi feito para ouvir apenas uma vez, tampouco para ouvir as músicas separadas. Com mais de 30 anos de carreira, o Flaming Lips convida o ouvinte a ter uma experiência. Não é fácil, pois temas como amor e morte são expostos de uma maneira que nem os fãs mais fervorosos devem ter absorvido em uma única audição. E vai evoluindo à medida que as músicas vão passando. Uma coisa que fica clara é a subdivisão dos temas: primeiro o amor é retratado de forma simples e inocente, depois a morte é colocada de forma mais pesada - as melodias deixam isso bem claro.

Bem estruturado melodicamente, com devaneios, questionamentos e muitos momentos de clímax, The Terror é uma poesia em que poucos vão entendê-la. Vide o fracasso do show da banda no Lollapalooza Brasil, já que o público comum não está pronto para esse tipo de experiência - ainda mais essa que o Flaming Lips oferece em números teatrais de muita intensidade.

Colocado tudo isso, dar mais de uma chance ao álbum e ter paciência será fundamental para a compreensão de um trabalho complexo, mas de imensa qualidade lírica e musical.

Tracklist:

1. "Look...The Sun Is Rising"
2. "Be Free, A Way"
3. "Try to Explain"
4. "You Lust" (featuring Phantogram)
5. "The Terror"
6. "You Are Alone"
7. "Butterfly, How Long It Takes to Die"
8. "Turning Violent"
9. "Always There...In Our Hearts"

Nota: 4,5/5

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=f2NCjcsgrbg]

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