Resenha: My Bloody Valentine – m b v

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Quando o My Bloody Valentine lançou seu último trabalho, em 1991, eu tinha apenas três anos e minha maior preocupação era se meu leite seria servido na hora do desenho. Desde então, muita coisa mudou, mas a expectativa por um disco de inéditas de uma das bandas mais influentes seguiu grande. Desde Loveless, a lenda, e principalmente Kevin Shields, só cresceu.

Após receber um belo adiantamento da Island Records para o terceiro LP, segundo a imprensa, Shields surtou. Pegou os US$ 250 mil, construiu um estúdio próprio e abandonou as gravações. À época, o então novo gênio do rock foi comparado com Brian Wilson, dos Beach Boys, e Syd Barrett, do Pink Floyd, conhecidos pelos problemas mentais durante a fase áurea de suas respectivas bandas.
Sem conseguir gravar o material produzido, o principal nome do grupo se isolou. Em 1999, surgiu um rumor de que um novo álbum estava prestes a ser lançado depois de três anos, mas o plano foi abortado. Perto do fim da última década, a banda retornou as atividades com a garantia de que um novo material seria lançado. E isso alimentou o sonho dos fãs nos últimos tempos.

Após 22 anos sem lançar nada inédito, após idas e vindas, o terceiro disco saiu. Chamado de m b v, o lançamento gerou imensa corrida ao site da banda, local escolhido para abrigar a primeira audição. A primeira música, chamada “She Found Now”, dá uma pequena mostra do que é o álbum como um todo. Cheia de camadas de guitarras, efeitos sonoros e vocais, o My Bloody Valentine desejou a todos um feliz 1993, com muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender.


“Only Tomorrow” mantém a pegada. Com um vocal suave, a música não nega que tem o dedo de Colm Ó Cíosóig no sampler, e Bilinda Butcher e Shields estão muito bem nas guitarras distorcidas, e ela está excelente nos vocais – e em todo LP, diga-se. Nem o tamanho da música, com 6:22, incomoda. Ao contrário, só aumenta a vontade de avançar e ver do que o MBV é capaz. E eles não esqueceram como se faz uma boa canção: “Who Sees You” lembra aquela que apareceu como grande nome do shoegaze (estilo de rock alternativo que apareceu no início dos anos 1980 no Reino Unido).

“Is This and Yes” vemos um grupo mais introspectiva, e a mudança de estilo é visível na troca das guitarras distorcidas pelo teclado. “If I Am” também remete à algo mais sombrio – a voz com muitos efeitos ajuda nessa impressão. Um dos momentos pop está em “New You”, mas não é uma música das mais simples.

Bom, uma música que começa com uma gaita de foles distorcida não pode dar errado, e é isso que acontece em “In Another Way”. Ninguém em 2013 faz esse tipo de som, por isso é um ponto favorável ao conceito e a obra do MBV. Acredite, essa faixa ganha mais e mais sentido quando ouvida várias e várias vezes. Totalmente instrumental, “Nothing Is” é diferente das outras. Mais pesada, ela deve ganhar ainda mais potencial ao vivo. Encerrando, “Wonder 2” é uma mistura de ritmos, acelerada, com uma guitarra bem interessante e muito complexa, com experimentalismos entre os membros.

O m b v não nasceu para ser ouvido pela metade, é para ouvir por inteiro. Mais uma vez, mesmo após tanto tempo, o My Bloody Valentine criou um conceito, ou recriou, de ter que prestar atenção em todas as faixas. Mais de duas décadas depois de aparecer, a banda retornou como se nada tivesse mudado, mas tudo mudou. Ou quase.

O que seguiu igual foi a forma de fazer música de um dos grupos mais conceituais que já passaram pelo rock. Se não mudar incomoda um pouco, mostrar que ainda é possível fazer boa música sem perder o estilo – não soando como música velha – é excelente. Isso resume bem o que eles construíram no novo trabalho, uma obra prima que será exaltada nessa e nas próximas gerações.

Nota: 4,5/5

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=rBKjhgHGVZs]


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